Trinta e sete anos depois de sua primeira exibição, Vale Tudo retorna à tela da Globo em 31 de março de 2025 em forma de remake — e com isso, volta também uma pergunta que continua tão incômoda quanto necessária: vale a pena ser honesto no Brasil?
Em 1988, essa pergunta chocou, provocou e gerou debates intensos em mesas de bar, redações, universidades e até nos corredores do poder. Era impossível assistir à novela e não se sentir cutucado. A Globo, na época, foi ousada. Não teve medo de jogar luz sobre a hipocrisia das elites, sobre a corrupção entranhada no sistema e sobre o eterno “jeitinho” que virou sinônimo de sobrevivência nacional. Foi um tapa sem pedir licença.
Agora, em 2025, a emissora parece pronta para revisitar esse incômodo. Mas será que terá a mesma coragem?
O poder simbólico do elenco e a atualização necessária da trama
Taís Araújo como Raquel Accioli é um dos maiores acertos dessa nova versão. A escolha não é apenas representativa — é poderosa. Uma mulher preta como símbolo de integridade e resiliência em um Brasil ainda profundamente desigual carrega consigo um simbolismo que transcende a ficção. Bella Campos, como a ambiciosa Maria de Fátima, pode (e deve) representar uma juventude que aprendeu a performar sucesso nas redes sociais, mesmo que isso custe valores, vínculos e verdades.
O país de hoje, embora digitalmente mais conectado, parece emocionalmente mais distante de princípios básicos de coletividade e justiça. O cinismo virou uma espécie de defesa emocional. Por isso, o remake não pode se contentar em ser apenas uma homenagem ou uma atualização estética. Ele precisa carregar o mesmo espírito provocador da versão original. Ou mais.
Ousadia ou acomodação? O que se espera da Globo em 2025
Corrupção, racismo estrutural, homofobia, desigualdade crônica, o abismo entre quem pode tudo e quem só pode resistir — tudo isso permanece atual, urgente e, muitas vezes, ainda mais escancarado do que antes. A vilania de Odete Roitman agora se dilui em estruturas, discursos e algoritmos. O desafio da Globo é justamente esse: manter a coragem. Ser incômoda. Não suavizar as críticas em nome da audiência ou da neutralidade.
Débora Bloch como a nova Odete Roitman carrega uma responsabilidade simbólica enorme. A personagem original personificava uma elite preconceituosa e implacável. E hoje? Quem ocupa esse lugar? Será que a novela vai cutucar onde realmente dói? Ou vai optar por um caminho mais confortável, menos arriscado?
A expectativa é alta. E com razão. Vale Tudo é mais que um produto televisivo. É um termômetro moral. E 2025 talvez seja o ano ideal para fazer o Brasil — novamente — se olhar no espelho, com todas as suas contradições.
A Globo tem uma oportunidade rara nas mãos: reacender um debate que nunca se apagou de verdade. A pergunta segue viva. E talvez, mais do que nunca, precise ser feita em voz alta.
E você? Depois de tantos anos, tantas crises, tantas decepções… já conseguiu responder? Vale mesmo a pena ser honesto no Brasil?
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