Dune 2021 se rende à fórmula de blockbuster

Releitura se distancia da obra original e deixa para trás pontos interessantes.

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A ficção científica talvez seja o mais nobre dos ramos cinematográficos, ainda que tal afirmação vá encontrar muita resistência. Mas tal não poderia ser diferente. Isso porque é através da ficção científica que a humanidade projeta seu futuro, seus sonhos, seus medos, suas esperanças e seus pesadelos. E Duna é o perfeito exemplo disso.

Baseado no livro homônimo de 1965, a adaptação cinematográfica de 2021 tenta triunfar e superar a versão clássica de 1984 e a obscura mini-série de 2000; e a missão do diretor Denis Villeneuve não foi fácil, até porque Duna foi uma das grandes inspirações de George Lucas para criar uma galáxia muito, muito distante. E os elementos estão todos aí: um império governado com mãos de ferro, uma profecia sobre um escolhido, sacerdotisas com poderes sobrenaturais, um planeta desértico que acaba sendo chave para toda a resolução e por aí vai.

E David Lynch bem que tentou trazer ao filme original o peso do livro, contudo o ritmo arrastado e passagens de pouca compreensão fizeram com que a obra entrasse para o lado culta do cinema de ficção; diferente de seu sobrinho famoso, que resolveu apostar não na introdução do universo e de suas regras, mas na ação e no drama. Trocando em miúdos, é como se Duna começasse já do seu meio.

E para não correr, nem se arrastar, o caminho tentado agora foi outro: investir em mais ação e uma impressionante construção visual com cenários lúdicos e uma fotografia deslumbrante. A mistura da arte com o blockbuster, recheado de atores famosos e de rápida identificação, como Jason Momoa, Zendaya, Rebbeca Fergurson, Oscar Isaac, Josh Brolin, Dave Bautista, Javier Bardem e Stellan Skargaard. Não seria exagero dizer que os produtores recorreram à fórmula Marvel para alcançar o sucesso.

Sim, a narrativa se mantém fiel ao material original até a vírgula em boa parte do início, mas logo a liberdade criativa impera e começa a deixar de lado alguns dos aspectos mais únicos e interessantes. A força das palavras, transformadas em arma, foi a ausência mais sentida. Nomes e conceitos obscuros que traziam a curiosidade sobre o material escrito foram deixados de lado por um roteiro mais plano. Perde-se um toque de Shakespere que pairava sobre o cult e assume-se o Michael Bay que existe em todo blockbuster e acaba o mistério. Minto, pois acaba na metade, frustrando muitos expectadores.