Valeska Bruzzi explica o que é assoalho pélvico e por que mulheres deveriam dar atenção a ele

Por que mulheres deveriam se preocupar em “malhar” o assoalho pélvico?

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Valeska Bruzzi, 30 anos, quando grávida, tinha pavor de pensar no momento de parir. Por isso, a cesárea foi a primeira opção que lhe veio à cabeça. “Queria um parto rápido, prático, com data marcada e sem sentir dor alguma”, lembra. Algumas sessões de fisioterapia pélvica funcional depois, tudo mudou, e Valeska deu à luz a Gael de forma natural, sem intervenções médicas ou anestesia, em uma maternidade da capital paulista que adota o modelo humanizado.

A fisioterapia feita por ela consiste em uma série de exercícios que prometem fortalecer o assoalho pélvico, conjunto de músculos e tecidos fibrosos, em formato de bacia, que sustentam órgãos como vagina, útero, bexiga, reto e intestino. “É importante que as mulheres tenham a visão de que ali embaixo existem músculos que precisam ser treinados como qualquer outro músculo do corpo”, afirma Dra. Thalita Freitas, fisioterapeuta especializada em saúde da mulher e atuante em uma clínica localizada em São Paulo, no bairro Paraíso.

Dra. Laura Della Negra, fisioterapeuta especialista em assoalho pélvico que acumula mais de 6 mil seguidores em sua conta de Instagram @assoalhopelvico, acredita que toda mulher, mesmo que não vá encarar um parto, deveria tentar os exercícios. “Não somos ensinadas a contrair essa musculatura. Mas isso é algo importante de se aprender desde criança. É preciso ter consciência dessa região para termos uma boa qualidade de vida. Um assoalho pélvico forte, que sabe como e quando contrair e relaxar, traz benefícios imediatos e também a longo prazo, para a saúde física e sexual da mulher”, diz.

Por que mulheres deveriam se preocupar em “malhar” o assoalho pélvico?

O treino adequado da musculatura preserva as funções originais do tecido. No sexo, isso significa melhorar a sensação de prazer e a lubrificação do canal vaginal. “Hoje minha vida sexual é muito melhor. Tenho consciência da minha musculatura interna e consigo ter muito mais domínio de tudo o que acontece ali dentro. Meus orgasmos ficaram mais potentes”, diz Valeska. O fortalecimento da região também diminui o risco de lesões no parto e no pós-parto. “Quando você tem um músculo bem treinado, se recupera mais rapidamente”, explica Thalita Freitas. Nas mulheres, parte da estrutura pélvica é mais espaçada em função da capacidade de parir. Além disso, a vagina é um canal extra, somada ao ânus e à uretra, que os homens não têm. “Vivemos contra a gravidade, isso faz com que a musculatura vá cedendo. Do mesmo jeito que o tríceps cai se a gente não faz exercício físico, acontece com o assoalho pélvico”, diz Laura Della Negra.

Do mesmo jeito que o tríceps cai se a gente não faz exercício físico, acontece com o assoalho pélvico

Qualquer mulher pode fazer os exercícios?

Sim, mas mulheres que apresentam algum tipo de disfunção, como incontinência urinária ou vaginismo, devem ter cuidado. “Se fizer o exercício errado, pode piorar o problema”, alerta Thalita. Dessa forma, é importante que, antes de começar o treinamento, você procure a orientação de um fisioterapeuta especializado no tema.E o que seria o assoalho pélvico, em si? Segundo Laura e Thalita, o assoalho pélvico é um conjunto de músculos e tecidos que formam a rede de sustentação da pelve e de órgãos como bexiga, útero e a porção final do intestino. Com isso, tem a função de continência de urina e fezes — além, é claro, de ter função importante na atividade sexual e de ser o canal de parto.

Como funcionam os exercícios?

Os exercícios consistem em contração e relaxamento feitos de forma voluntária. “Podem ser feitos de diversas maneiras. Contrações rápidas, lentas, sustentadas, associados a um exercício. Depende do objetivo”, explica a fisioterapeuta Thalita. Involuntariamente, a movimentação lá embaixo acontece quando espirramos, por exemplo, e o assoalho se contrai para segurar a urina. Exercícios que trabalham mobilidade pélvica, como yoga e pilates, também estimulam o assoalho pélvico. “Mas o legal seria se a gente desse uma forcinha e não deixasse só na parte involuntário”, reforça Laura. A melhor parte disso tudo? Alguns dos exercícios podem ser feitos em qualquer lugar, como no trabalho ou no transporte público, sem que ninguém perceba, já que a contração é bem específica e localizada.

É também importante para os homens fortalecer o assoalho pélvico?

Homens também podem adquirir uma pelve mais sadia, uma continência e uma ereção melhores com exercícios para o assoalho pélvico, também muito recomendado para aqueles que passam por retirada da próstata.

Por que devo procurar um profissional se posso fazer os exercícios sozinha?

“Existem muitos cursos na internet, mas nem todo material é confiável. É preciso de cuidado para selecionar os exercícios, principalmente se a mulher já tem algum tipo de disfunção prévia dessa região, como incontinência urinária e dor na relação sexual”, diz Thalita. Além de ser importante aprender a contrair — o que, por si só, pode ser uma tarefa bastante complicada para algumas mulheres —, as especialistas dizem que é importante aprender a relaxar essa região, assim como qualquer outro músculo. “Uma contração excessiva pode dificultar um trabalho de parto e pode causar dor na relação sexual”, diz Laura. É importante destacar que, em consultórios adequados, os fisioterapeutas possuem aparelhos tecnológicos que auxiliaram a aplicação de técnicas mais complexas e estímulos. “É difícil localizar, entender e ter a consciência dessa região”, destaca Thalita.

Por que conhecer o assoalho me traria autoconhecimento?

“Eu entrei em contato com toda a minha musculatura vaginal, isso me trouxe um autoconhecimento absurdo. Eu tive um total domínio da minha experiência de parto, eu sabia quais movimentos ajudariam o bebê a descer”, conta Valeska Bruzzi. Ambas as fisioterapeutas pélvicas consultadas identificam uma mudança de paradigma que tem levado mulheres a olhar mais para si mesmas, para seus corpos e para o seu prazer. “Isso tá muito ligado ao empoderamento, toda essa nossa vontade de se autoconhecer e de ganhar consciência”, diz Laura Della Negra.