Viúva Negra celebra o protagonismo feminino com classe e muita ação

Filme adiado por conta da pandemia preenche lacunas na trajetória da heroína da Marvel.

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Finalmente estreou nos cinemas brasileiros e nas plataformas de streaming o longa solo da Viúva Negra de Scarlet Johanson, que se passa entre os eventos de Guerra Civil e Vingadores: Guerra Infinita, enquanto Natasha estava foragida por violar os acordos de Sokovia.

Muito pedido pelos fãs, que queriam ver um filme solo da heroína, um misto de saudade com busca pela representatividade feminina, o filme foi comentado pela própria protagonista como sendo impossível de ser realizado 10 anos antes. Não é à toa. Viúva Negra traz um protagonismo livre de concessões e condescendências que geralmente se atribuem às protagonistas femininas. 

Natasha Romanoff não é uma pessoa inteiramente boa, diferente do tratamento que o cinema deu à Mulher Maravilha. Natasha é falha, ao mesmo tempo vítima e culpada por outras vítimas, e se coloca como tal, humanizando o personagem muito além da heroína da DC, quando a comparação se torna inevitável. Mas as comparações param por aí.

Viúva Negra consegue acertar um tom de atualidade muito grande, apesar de ser passar no passado do MCU. Isso se deve às discussões provocadas tanto pelo tráfico de mulheres, como pela temática mais intimista das famílias disfuncionais, embora nenhuma possa ser tão disfuncional como a família de uma espiã russa.

E como de costume, a Marvel brilha no seu casting. Tanto que sua protagonista Scarlet se vê ofuscada pela fantástica Florence Pugh. Que apresentação ao grande público dessa atriz britânica que já foi até indicada ao Oscar e sobre a qual deverá recair o manto de Natasha após o emocionante desfecho de Nat nos cinemas. Como não poderia deixar de ser, o elenco de apoio também brilha, com o alívio cômico de David Halbour, verdadeiro tio do pavê com a força do supersoldado, e a experiência de Rachel Weisz.

Pelo arco narrativo, muito além de explicar Budapeste, Jac Schaffer entrega um trabalho muito mais equilibrado entre seu lado conceitual explorado em Wanda Vision e o tipo de ação e ritmo que o fã da Marvel está acostumado, balanceando as motivações e a traumática história da protagonista com cenas de lutas muito bem coreografadas e ação frenética que marca os arcos envolvendo o Capitão América e seus aliados, o que condiz com mais uma bela introdução de personagem: O Treinador, que tal qual Batroc funciona organicamente muito bem, mesmo não sendo da elite dos vilões, e dá aos espectadores mais fanáticos a chance de identificar diferentes estilos de luta em cada aparição sua.

Viúva Negra carregava uma grande expectativa, fosse por seu adiamento, pelo protagonismo de Scarlet em um SpinOff dos Vingadores originais, ou mesmo por ser um filme Marvel depois de tanto tempo, mas não deixou de atender nenhuma expectativa. Com sua linguagem própria, em um humor mais feminino e sutil e sem qualquer condescendência, o longa triunfa ao explorar a principal característica de Natasha: sua humanidade, com a fragilidade, força e sacrifício que sempre fizeram parte da saudosa personagem. Bravíssimo.