Rei Leão deslumbra, mas não supera original

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25 anos se passaram desde que a animação Rei Leão ganhou as telas, bateu recordes e encantou o mundo com um enredo shakespeariano, canções divertidas que mudaram o jeito de animações serem feitas e personagens inesquecíveis. E no seu aniversário de 25 anos, a animação foi refeita como Live Action, sem nenhum ator humano, o que exigiu muita habilidade do diretor John Favreau, para recontar a história, sendo fiel e inovador ao mesmo tempo. 

O desejo de ser fiel ao desenho se mostra logo na abertura, quando os animais se deslocam para ver o batizado de Simba. A mesma sequencia de animais do desenho ganha vida na experiente equipe de design gráfico.

E no batizado, as diferenças começam a aparecer: se é normal que a Disney antropomorfize seus personagens, dando movimentos e expressões humanas a um desenho de animal, móvel ou carro, como fazer isso em live-action? Simples, não fazendo.

Favreau desantropoformizou os animais, respeitando assim movimentos e expressões animais (com exceção do movimento das bocas), deixando muito palatável a animação. Assim, Scar não pega um ratinho entre os dedos, e sim fecha ele nas garras. Rafiki não abraça Mufasa, mas faz um gesto em sua fronte. Grande sacada e belíssimo ponto positivo. 

Outro ponto interessante foram os dubladores: aqueles que pareciam equivocados, brilharam. Exemplo de Seth Rogen como Pumba, talvez a melhor atuação de sua carreira. Ninguém está mal, mas alguns dubladores originais deixam saudades, como o Mr. Bean fazendo Zazu, Whoopi Goldberg como hiena, Mathew Broderick como Simba e Jeremy Irons, maravilhoso e sarcástico como Scar, o Iago da Disney.

Para matar as saudades trouxeram James Earl Jones de volta como Mufasa. Se isso era possível, outros deveriam ter sido considerados. E por fim, há Beyoncé como Nala adulta, a futura esposa de Simba. Parece que a rainha do pop só foi trazida para cantar Can You Feel The Love Tonight, que ficou linda em sua interpretação, mas era muito pouco.

O que fizeram? Criaram outra música para ela, Spirt, totalmente desnecessária, e aumentaram o papel de Nala, criando um protagonismo sem sentido e inexistente na obra original, e que infelizmente ficou parecendo um discurso de matriarcado das leoas, fruto de tempos politicamente corretos e que precisa retratar uma aparência de igualdade até em sociedades onde isso não existe. Esse ponto, e o discurso de bullying de Pumba, infelizmente dão força às vozes críticas que dizem que agora Hollywood sempre precisa pagar pedágio em suas obras. Se isso não estraga o filme, tira uma parte considerável de sua força. 

Visualmente deslumbrante, Rei Leão certamente fará muito dinheiro por resgatar a infância de muitos, e encantar a infância e juventude de tantos outros, fincando o pé no coração de pelo menos mais duas gerações. Mas que renda e crítica não enganem: apesar do belo trabalho de Favreau, que conseguiu melhorar um dois gaps na narrativa original, como decisões de Simba e brigas com Scar, o mesmo não se pode dizer das alterações sem sentido na história, mudando a balança de poder narrativo do protagonista, que embora tenha sido preservado na técnica de movimentos, ficou enfraquecido pelo enredo e deixou os apreciadores da obra original saudosos pelos seus dubladores marcantes e suas músicas inesquecíveis compostas para o enredo, e não para o ego de cantores. Mas é como dizem, Hakuna Matatta.