Cidade Invisível mostra a dramaturgia brasileira pronta para Hollywood

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Carlos Saldanha ama o Brasil e em especial o Rio de Janeiro. Após seu sucesso na Dreamworks com o esquilinho Scratch, ele teve verba e fez Rio e Rio 2, na Amazônia. Os filmes foram verdadeiras declarações de amor ao Brasil, e Cidade Invisível não é diferente.

Importante falar de Saldanha porque ele viu o que dá certo lá fora, e talvez seja essa visão que faça de Cidade Invisível algo tão único e especial. Ao ver uma série brasileira, é normal que as brasilianidades apareçam. Seja uma visão romântica do Rio, cosmopolita de SP, sofrida ou ingênua do Nordeste. Não Cidade Invisível. Não tem bossa, chorinho, samba. Tem crime, tem mistério, tem lenda. É uma série universal.

Em Cidade Invisível, um policial ambiental, muito bem interpretado por Marcos Pigossi, acaba sendo envolvido em uma série de mistérios ligados à morte de sua esposa em uma reserva ambiental. E isso arrasta Pigossi para um universo de lendas e mitos, cada vez mais reais.

Cidade Invisível apresenta diversos mitos e lendas do folclore brasileiro, desde clássicos como o Saci Pererê até outros mais obscuros como o Corpo Seco. E Saldanha apela para algumas fórmulas bem sucedidas como Grimm e Deuses Americanos e posiciona as entidades como personagens reais de um universo suburbano que deixou as crenças para trás. É o toque Hollywoodiano, que muitas vezes confere o tom da universalidade a uma série, e dificilmente se vê em seriados nacionais, apesar da grande qualidade da dramaturgia nacional.

O seriado conta ainda com um casting primoroso, com Alessandra Negrini em um dos papéis centrais, e outros rostos conhecidos do grande público, mas algumas revelações também, como a maravilhosa sereia Jéssica Corés. Todos estão muito bem colocados, sem exageros nem faltas. E isso faz toda a diferença.

Diferente de muitas séries, Cidade Invisível não seduz com o charme do Rio, seus barzinhos e natureza exuberantes, mas cativa justamente pela riqueza de seus personagens, e mais ainda, por falar com o subconsciente coletivo ao trazer à tona memórias antigas das lendas ouvidas em colégio, como o boto, a cuca, o saci e o curupira.

As tradições sempre foram passadas oralmente antes da escrita, e depois por meio de livros, tanto que muitas gerações tem que agradecer a Monteiro Lobato por conhecer essas lendas. E agora outras gerações vão poder agradecer Carlos Saldanha por contas essas histórias e aguçar essa curiosidade.