Chernobyl é a mais impressionante e aterrorizante série já feita pela HBO

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Uma das missões mais difíceis das produções televisivas e cinematográficas é transformar eventos reais em peças ficcionais, mantendo a veracidade de fatos e eventos sem perder a atratividade, ou seja, dramatizando os eventos na medida certa. A boa notícia é que esse nicho específico vem se desenvolvendo muito e gerando obras de grande impacto, como é o caso de Chernobyl, produzido pela HBO, e que vem sendo o grande chamariz do canal fechado após o final frustrante de Game of Thrones. 

Chernobyl traz a história da explosão do reator nuclear em abril de 1986, naquela que pode ser considerada a pior catástrofe ambiental já ocorrida no planeta Terra, que teria liberado energia nuclear em quantidades estimadas em 400 vezes a energia da bomba de Hiroshima e Nagasaki. O caso possui números impressionantes, que são trazidos pela série, que se vale do mesmo expediente de Roma, também da HBO, para contar os eventos: escolhe um personagem que acaba sendo o ele narrativo do que aconteceu historicamente, nesse caso Jared Harris, no papel do cientista nuclear Valery Legasov. Legasov é a voz da razão, alheia à política, e consegue explicar de forma didática o tamanho do acontecimento. 

Formatada em 5 episódios de aproximadamente uma hora, Chernobyl surpreende pela produção fantástica, quase lírica. A sutileza de diversas tomadas, a construção de cenas bucólicas e a justaposição de situações faz com que a série se torne imediatamente uma aula de cinema, aliando a isso atuações impressionantes, com destaque para Stellan Skarsgard, ator sueco que interpreta um alto militar do partido soviético que é o primeiro a entender a gravidade do assunto e a tomar as medidas que eram necessárias para interromper a progressão dos danos. Stellan consegue encarnar o pragmatismo e a frieza russa em suas feições, raramente traídas pela perda do brilho dos seus olhos, que se tornam opacos diante da compreensão. Uma atuação que certamente será indicada para premiações. 

Impossível uma série americana sobre um desastre russo não trazer algum viés político e ideológico, contudo para espectadores que não sejam muito parciais, a série parece ser razoavelmente isenta, mostrando que haviam pessoas bem e mal intencionadas do lado Russo, além de muitas pessoas inteligentes, deixando claro que a política que ocorreu lá poderia ter ocorrido em outros lugares. Um fato curioso é que a Rússia não partilha desse entendimento, tendo repudiado a série veementemente e inclusive estando em processo de financiar a versão russa dos acontecimentos. 

Com tudo que apresenta, Chernobyl se transforma em uma série obrigatória de ser assistida, pois serve de alerta para rumos que muitos países estão tomando em suas políticas ambientais, além de uma aula de história sobre um terrível acontecimento que ocorreu há menos de trinta anos e mudou a feição do planeta, isso sem considerar a grande produção e atuações memoráveis. O grande desafio é tentar pensar em Chernobyl como ficção, pois vista como a verdade que é, a minissérie se torna em um verdadeiro filme de terror, de arrepiar os mais céticos e corajosos.