Ao assistir um seriado adolescente, vira e mexe aparece um episódio que é uma homenagem ao Clube dos Cinco (“Breakfast club” no original), clássico adolescente de John Hughes, incensado até os dias atuais pela crítica e desconhecido das novas gerações, o que sempre desperta a curiosidade de porque o drama/comédia é sempre tão lembrado.
Produzido em 1985, o filme dificilmente tem o apelo na segunda década de 2000 como teve para várias gerações, chegando a ser chamado de machista e envelhecido. Mas se faz necessária a utilização do filtro do tempo, afinal, qualquer julgamento do ontem feito com os olhos do hoje cai no pecado do anacronismo, e com isso, a perda de razão.
Clube dos Cinco encontra seu grande valor ao trazer para uma discussão aberta das grandes telas do cinema as dores adolescentes que ficavam tão escondidas, e que, ainda hoje, são tratadas muitas vezes como tabus e como assuntos a serem evitados, como o bullying, o sexo prematuro, a violência doméstica, o suicídio, a fixação com resultados. Certamente faltariam temas em uma grande lista, mas em comparação histórica, Anos Incríveis, seriado popular da mesma década, levou seis anos para abordar menos questões, isso porque foi lançada 3 anos depois, o que gera a reflexão de se haveriam shows de maior sucesso como Dawson´s Creek (que também homenageia o clássico de Hughes), quanto mais obras ousadas como 13 Reasons, e dezenas, senão centenas de filmes adolescentes de todas as vertentes, lembrando que a grande maioria dos clássicos “Sessão da Tarde” são posteriores ao Clube.
Na narrativa, cinco adolescentes são mandados para a detenção de sábado, e levados a escrever uma redação sobre o fato e suas perspectivas, contudo, o descobrimento das razões, e por trás delas, as angústias adolescentes e temas polêmicos, são revelados um a um, quase na estrutura de prosa de Noites na Taverna. O diretor tem a sensibilidade de alternar o tom do drama e da comédia, por vezes suavizando e em outras deixando o clima tenso, o que conversa com o sentimento adolescente imutável de fim do mundo diante de um problema, e que depois volta a se acertar (com maiores ou menores repercussões).
Interessante é verificar a força do filme ao seu tempo, visto que nomes como Emilio Estevez (irmão de Charlie Sheen), Molly Ringwald e Judd Nelson fizeram carreira após o longa. Até mesmo sua trilha sonora, encabeçada pela hoje cult Don´t You Forget About Me, da banda escocesa Simple Minds, foi encomendada e recusada a ser gravada por artistas como Billy Idol antes de ser aceita pela mediada banda de New Wave, que fez pouco da canção que viria a se tornar seu mais conhecido sucesso. Visionário ao seu tempo, Hughes viria a liderar grandes sucessos de bilheteria em toda a década de 80 e 90, como a franquia Esqueceram de Mim.
Ou seja, ainda que não brilhe aos olhos ver Clube dos Cinco em plenos anos de 2000, o público que se propor a conhecer o famoso longa tem que fazer o exercício sobre o valor do filme ao seu tempo, ou melhor, à frente dele, e que certamente teve uma grande participação em inúmeras obras que a sucederam.