O ex diretor da TV Globo Marcius Melhem ajuizou uma ação civil contra a também atriz e humorista Dani Calabresa. Ele pede uma indenização por danos morais e materiais no valor de R$ 200 mil além de uma retratação pública sobre as acusações de assédio moral e sexual.
Segundo Melhem, a relação entre os dois sempre foi pautada por respeito, admiração e companheirismo. Para isso Melhem levou ao processo uma série de áudios e trocas de mensagens de “Whatsapp”. De acordo com o documento, toda comunicação com Dani sempre foram pautadas por uma linguagem de conteúdo informal, jocoso e por vezes íntimo, que norteavam a relação profissional entre os dois. O humorista esclarece logo no início da peça que Dani Calabresa já externava o desejo de desligar-se do programa “ZORRA” e que, em vista do seu descontentamento com o formato proposto pela Globo para o programa “Fora de Hora”, sentiu-se boicotada. “Essa divergência profissional culminou com o esgarçamento da relação de proximidade e de intimidade partilhada por ambos”, explica o documento.
Melhem conta que o descontentamento da atriz culminou com a denúncia ao “compliance” da emissora, a respeito de atos que teriam sido praticados por ele, classificando tudo como assédio moral e sexual. Ele aponta que a emissora divulgou um comunicado informando que o término do vínculo contratual com a Globo encerrava uma “parceria de sucesso”, sem qualquer menção a supostos atos de assédio moral e sexual. Além disso, o humorista destaca que diante da repercussão do assunto, a Rede Globo veio a público, por meio de Comunicado, esclarecer que “tudo foi apurado rigorosamente.” Disse também que em razão das entrevistas dada pela advogada Mayra Cotta passou a ser taxado de “assediador”, o que resultou numa execração pela opinião pública, alvo de ofensas e campanhas difamatórias.
O humorista informou à Justiça que Interpelou Dani Calabresa dando cinco dias para ela explicar se concordava ou não com a matéria publicada na Revista Piauí – e também nas declarações dadas pela advogada Maíra Cotta, mas que ela não apresentou resposta, deixando a sua integral concordância com o conteúdo inverídico de tais notícias e com a divulgação pela mídia do assédio, atuando assim para a sua execração pública. Além disso ele destacou que a atriz teria encontrado com o apresentador Danilo Gentilli e que, de forma indireta, havia confirmado ao amigo que postou nas redes sociais que Dani Calabresa havia confirmado para ele o teor das denúncias.
Acusado sem boletim de ocorrência e sem processo judicial
Marcius Melhem também sustenta no processo que as acusações não tinham respaldo do poder judiciário e que, mesmo assim, ele acabou se tornando um chefe abusivo e violento, quanto Dani Calabresa se tornava uma subordinada acuada e fragilizada pelas investidas morais e sexuais contra ela desferidas.
O ex-diretor da Globo apresentou diversos áudios e mensagens para comprovar que o tratamento entre eles era absolutamente incompatível com aquele esperado de uma “sedizente vítima de assédio”, que, segundo a Piauí, “vivia tensa com a possibilidade de se encontrar com Melhem”, evitando a todo o custo o contato com o Autor.
Segundo Marcius, o tom jocoso e íntimo era constante no tratamento entre ambos e também comuns as brincadeiras, inclusive de natureza sexual. Mas nada aí havia de constrangedor, abusivo ou imposto. Em seguida apresenta um diálogo indicando que Dani Calabresa enviava nudes para ele sem que o mesmo pedisse algo.
O comediante também apresentou outro diálogo datado do dia 2 de dezembro de 2017 (a festa em que foi acusado de assédio sexual foi no dia 5 de novembro de 2017), quando Calabresa novamente, em tom jocoso, enaltece os “dons” físicos do autor:
Melhem rebate acusação de assédio em Camarim com Calabresa de biquíni
Melhem também apresentou uma robusta defesa sobre a acusação da Piauí de que teria assediado Dani Calabresa dentro de um camarim no Projac enquanto ela estaria arrumando-se para uma cena em que faria uma salva-vidas voluptuosa, uma sátira de SOS Malibu. De acordo com a publicação da revista Piauí, vestindo um roupão, Calabresa abriu a porta do camarim, ele entrou e, em tom de brincadeira, disse que viera dar uma ‘conferida’ no figurino. Constrangida, a atriz sorriu amarelo e não tirou o roupão.” De acordo com o documento a mencionada gravação não ocorreu no PROJAC. A gravação foi externa, tendo ocorrido na praia de Grumari, a vários quilômetros dos estúdios da Rede Globo, conforme indica o Roteiro de Gravação do programa. Além disso, nas cenas teriam sido externas sem a presença do diretor, e que no local havia um “ônibus-camarim”.
Festa de confraternização na madrugada de 5/11/2017
De acordo com a publicação da Revista Piauí e da advogada Maíra Cotta, Dani Calabresa teria sido vítima de assédio sexual na festa do dia 5 de novembro de 2017, durante comemoração do episódio número 100 do humorístico Zorra Total. Segundo narrativa do veículo, uma das mãos imobilizou os dois braços da atriz, e a outra puxou a sua cabeça para forçar um beijo enquanto ele tirava o orgão sexual para fora da calça. O humorista rebate perguntando no documento como conseguiria desempenhar essa ação, uma vez que possui apenas duas mãos.
De acordo com Marcius, na verdade ele cruzou com ela na porta do banheiro. Mas não houve qualquer ato de assédio ou violência, como descrito. Ele afirma que jamais praticou qualquer ato de violência em relação à Ré ou quem quer que seja. O humorista confessou que, de fato, em dado momento, ao final da festa, cruzou com a Dani na porta do banheiro, que não era local de difícil visibilidade como afirma a reportagem e trocaram beijos e carinhos, de modo absolutamente consensual, assim como muitos outros casais presentes ao evento. Na ocasião, Marcius sustenta que também trocou beijos e carinhos com uma amiga convidada por Calabresa e que não foi referida pela reportagem da Revista Piau.
No dia seguinte a festa, o processo ainda traz mensagens de Dani Calabresa enviadas para Melhem dizendo que a festa foi “bafo”. Seguindo em sua defesa, o humorista recebeu mais mensagens da humorista falando bem dele e que, inclusive, gostaria de viajar com ele para Disney. Ela ainda detona o ator Caruso:
Mensagens depois de um ano do suposto assédio
Passados meses e até mais de um ano, a humorista, segundo o processo, continuou enviando mensagens ao ex-diretor, precisamente em novembro de 2018.
Já em janeiro de 2019, parabenizou Melhem pela promoção a chefia do humor na emissora e perguntou como faria para ganhar um aumento:
Ainda no mesmo mês Dani propõe encontrar-se com o então chefe para discutir assuntos profissionais e aproveita para lhe contar uma “coisa engraçada que ocorreu agora” no Programa de Fátima Bernardes:
Ele ainda diz que uma pessoa traumatizada por assédio sexual não ficaria tanto tempo trocando mensagens com o “agressor” e entrega mais uma batelada de prints no processo.
Para encerrar o processo, o humorista diz que a real motivação foi se vingar porque Marcius tirou ela do novo programa, “Fora de Hora”, por conflitos internos. “Desanimada com o Zorra, Marcius começou e pensar em novas propostas para que ela e, portanto, veio a ideia do programa “Fora de Hora”, um atrativo que seria próximo ao “Furo MTV”. O conflito teria se iniciado porque ela se recusava a aceitar o ator Paulinho Vieira e pedia pelo nome de Bento Ribeiro, que teria sido negado pela emissora. Após uma briga, Marcius enviou uma mensagem justificando a saída dela do programa:
Melhem pede uma indenização de R$ 200 mil que, segundo ele, seria direcionado para Associação de Assistência a Criança e Deficientes. Além disso, ele pede uma retração pública nas redes sociais da humorista e diz que já gastou R$ 46 mil com tratamentos psiquiátricos e terapia.