Remakes tem a tendência de afastar um filme de sua obra original, relendo e “atualizando” o material para um novo público, e a melhor notícia no remake de O Cemitério Maldito, é que acontece exatamente o oposto: se o diretor do original toma suas liberdades, no caso do atual parece ter havido um respeito maior com a fonte, aproximando assim o filme das demais adaptações da obra do mestre do terror Stephen King. Algumas coisas estão melhores mortas. Esse filme não é um desses casos.
O enredo já é bem conhecido do público: família se muda para cidade pacata do interior, e diante do infeliz falecimento precoce do gato da família, o mesmo é enterrado no cemitério de animais que nomeia a obra, para em seguida reaparecer, totalmente mudado e claramente tendo trazido algo ou alguma influência com ele do mundo dos mortos, causando assim uma série de desdobramentos trágicos.
No original, como era comum nos filmes de terror da década de 80, além dos efeitos menos precisos, era comum que o enredo fosse menos preocupado com a lógica e focasse mais no resultado final. Já nesse remake, roteirista e diretor se preocupam em contextualizar as decisões boas e ruins, de forma que as últimas parecem aceitáveis diante da dor, do sentimento da perda e até mesmo da dúvida sobre um pós vida. Ponto positivo.
Curto, com aproximadamente 100 minutos de projeção, o novo Cemitério Maldito traz atuações muito bem pontuadas, na qual os atores, em sua maioria desconhecidos (além do fantástico John Litgow), vai aos poucos sendo influenciando por um mal ancestral, e passando pela dúvida do que é percepção e do que é realidade. Deu para lembrar O Iluminado, A Coisa ou A Névoa?
Ótimo. Isso é Stephen King, a força mental sendo preponderante sobre a força física em uma luta contra poderes que somente se sentem e não podem ser vistos. Não até ser tarde demais, pelo menos. E as atuações são dirigidas à isso, de forma gradual e escalonada, até que se chegue ao ponto de ruptura em que o horror desafia a realidade e ameaça rasgar seu véu, como o que se espera ver na terceira temporada de Stranger Things.
Sem enrolação e sem sustos cenográficos (sons altos, agudos ou graves pontuados de forma aleatória), o terror é genuinamente explorado, e os responsáveis são um misto de inocentes e influenciáveis, em um enredo fechado, sem pontas soltas, dirigido com foco e arrebatado de forma aterrorizante em um terror que faz muito mais do que requentar um filme: resgata o livro do mestre do terror e um gênero que sobrevive aos trancos e barrancos e até então só vivia das boas sacadas de Jordan Peele. Bravo.