Uma série dramática que dura uma década e consegue se transformar em fenômeno mundial certamente teria um final que deixaria parte dos fãs decepcionados, mas dificilmente tanto deles.
A última vez que se deu acontecimento parecido, foi com o seriado LOST, mas esse, por sua vez, lidava com um problema comum a muitos seriados, que é justamente ir se inventando à medida que a série vai desenvolvendo, e em certo momento os roteiristas confessadamente não sabiam pra onde ir e já tinham fechado muitas portas definitivamente.
Essa desculpa Game of Thrones não tinha: seriado que se baseou em uma série de livros que já tinha 5 volumes escritos por um antigo roteirista de Hollywood, que logo após sua primeira temporada teve renovação garantida com altos orçamentos e contando com os melhores roteiristas e diretores, tendo inclusive se dado ao luxo de ficar uma temporada em ano sabático, pensando na conclusão. Claramente pensou demais.
A última temporada foi a mais polêmica e contestada. Uma vez mais, sem surpresa aqui. Ao fechar os caminhos, conclusões começaram a ser dadas e arcos narrativos encerrados, de forma a desapontar parte do público, mas a piora das conclusões se acentuou nos dois últimos episódios, justo os últimos dois, causando avalanche de reclamações na internet.
Nunca foram temporadas longas, geralmente de 10 episódios, mas o público começou a reclamar quando foi anunciada a temporada final em apenas 6 episódios, quase um filme por episódio. Não havia necessidade disso. O que era para ser uma celebração da maior série de todos os tempos, acabou virando um festival de erros de continuidade e situações apressadas, espremendo assim roteiro e narrativa.
Pouco a pouco, personagens queridos ou odiados pelo público começaram a ter seus finais desenhados e entregues, sendo alguns deles totalmente compatíveis com seus arcos históricos, mas pouco alinhados com os últimos acontecimentos, o que começou a gerar uma dissonância cognitiva, ou o famoso sentimento de “ué?”. Ao desrespeitar o histórico dos personagens, os diretores e produtores começaram a ter que dar explicações públicas após cada episódio, tal qual um guia de como interpretar o que acontecia. Uma história quando precisa ser explicada, perde sua força, tal qual uma piada.
Esse desgaste narrativo fez o time que definiu o rumo do seriado perder credibilidade com o público, um público difícil, que se acostumou ano após ano a ser surpreendido, sempre com algo impactante. E ao definir os rumos que tomaria o trono de ferro e quem ocuparia o mesmo, foram lançadas surpresas sem qualquer lastro com o que foi construído, forçando um final absolutamente irrelevante e sem impacto.
Surpresas, sim, mas surpresas pelo mero fato de serem absurdos narrativos, sem lastro histórico do amplo universo desenhado em diversas mídias, destruindo a expectativa de milhões de fãs ao redor do globo. Embora decepcionante, o penúltimo episódio ainda tinha margem para salvação, que não veio.
As Crônicas de Gelo e Fogo ao final terminaram nem quentes nem geladas, mornas e sem graça, com o jogo dos tronos sendo decidido por W.O. Aos fãs resta esperar que o autor George Martin entregue um outro final menos decepcionante.