De roubo de pulseira a venda de bebê: essas são as quatro tramas que a Globo cortou de Vale Tudo

Manuela Dias suavizou parte do enredo da novela que originalmente foi ao ar em 1988.

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Prestes a chegar ao fim nesta sexta-feira (17), a nova versão de Vale Tudo deixou de fora quatro enredos emblemáticos que marcaram a trajetória de Maria de Fátima, originalmente vivida por Gloria Pires em 1988, e agora interpretada por Bella Campos. 

Na versão original criada por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, Maria de Fátima protagonizava cenas de forte carga moral e social — alternando crueldade, arrependimento e tragédias familiares que a tornaram um dos arquétipos mais complexos da teledramaturgia brasileira. Já no remake, Manuela Dias optou por uma abordagem mais contida, centrando a personagem em temas contemporâneos como ambição digital, influência nas redes e ascensão social pelo marketing pessoal, mas cortando passagens que, à época, chocaram o público.

O roubo da pulseira de Celina

Um dos episódios mais icônicos da versão de 1988 foi eliminado do remake: o roubo da joia de Celina (Nathalia Timberg). Na trama original, Fátima furtava uma pulseira da tia para conseguir dinheiro, e a culpa recaía sobre Marina, a empregada dos Roitman. A inocente era levada à delegacia e ameaçada de tortura — numa crítica dura à desigualdade social e à impunidade das elites. O crime só era desvendado quando Celina escutava Fátima se gabando ao telefone com César, e a dondoca a confrontava com um tapa memorável. Essa sequência, considerada um divisor de águas na novela original, foi substituída no remake por pequenos conflitos domésticos, diluindo o impacto dramático que a cena tinha na crítica social.

O suspense do exame de DNA

Outra história cortada pela autora foi o mistério em torno da paternidade do filho de Fátima. No enredo original, o público acompanhava com ansiedade o resultado de um exame de DNA — na época uma novidade científica — que definiria se o bebê era de César (Carlos Alberto Riccelli) ou Afonso (Cássio Gabus Mendes). A revelação, que expunha o oportunismo da personagem, gerava uma ruptura definitiva entre Fátima e Afonso. No remake, esse arco foi completamente suprimido, eliminando um dos maiores dilemas morais da personagem. Assim, Bella Campos interpretou uma Fátima ambiciosa, mas sem o mesmo peso trágico da maternidade renegada que marcou Gloria Pires.

A venda do filho

O ponto mais polêmico da vilania de Fátima, segundo Walter Felix, colunista do Na Telinha, foi a venda do próprio filho para o tráfico de crianças. Na novela original, a jovem entregava o bebê a estrangeiros interessados em uma adoção ilegal, num dos momentos mais ousados e criticados da teledramaturgia.

O plano era interrompido por Raquel (Regina Duarte), que impedia o embarque no aeroporto e passava a cuidar do neto. O remake suavizou completamente esse arco: a personagem de Bella Campos termina trabalhando em uma padaria e entregando o bebê à mãe por vontade própria, em uma abordagem mais simbólica e menos trágica.

Fátima como a principal suspeita

Outro corte relevante foi a participação direta de Fátima nas investigações da morte de Odete Roitman. Em 1988, ela se tornava a principal suspeita, e o drama levava Raquel a assumir a culpa pela filha — numa das cenas mais emocionantes da TV. O remake, entretanto, transferiu esse arco para Celina (Malu Galli) e Heleninha (Paolla Oliveira), retirando de Fátima qualquer envolvimento com o mistério policial e deixando sua trajetória mais isolada.