A cantora Marília Mendonça, falecida em 2021, deixou um legado musical tão vasto que pode sustentar lançamentos por até duas décadas, segundo seu empresário Wander Oliveira, dono da Workshow. A estratégia é trabalhar cerca de dez músicas por ano, revelando gradualmente o acervo. O sucesso póstumo da faixa Leão, lançada em 2022 e que se tornou a mais ouvida do país nas plataformas digitais, confirma a força de sua obra mesmo após sua partida.
Controle do legado e disputas
A administração do espólio de Marília envolve três frentes: sua família — representada pela mãe, Ruth Dias, e pelo cantor Murilo Huff, pai de seu filho Léo —, a gravadora Som Livre e a Workshow. Essa divisão tem provocado impasses. Um exemplo foi o lançamento do dueto póstumo com Cristiano Araújo, “De Quem É a Culpa?”. A iniciativa partiu da família e não contou com o aval de Oliveira, que, apesar de não concordar, optou por não vetar a decisão para evitar atritos.
O pen drive inédito e a polêmica
Além das músicas gravadas em estúdio e dos registros de lives que originaram o álbum póstumo Decretos Reais, existe ainda um material mais íntimo: rascunhos, gravações em voz e violão e composições guardadas em diferentes dispositivos. Um pen drive compilado por Juliano Soares, o Tchula, amigo e parceiro da cantora, reúne entre 100 e 110 arquivos inéditos, descritos por quem ouviu parte do conteúdo como alguns dos melhores momentos da carreira de Marília. O destino desse material se transformou em um dos principais pontos de divergência.
Oliveira afirma que doou seus direitos sobre o dispositivo para o espólio de Léo, filho da artista, defendendo que o conteúdo pertence a ele. No entanto, o advogado da família, Robson Cunha, teria iniciado tratativas com a Som Livre para lançar as faixas. Cunha confirmou as conversas, alegando que todo material gravado em vida já está sob contrato da gravadora, sem conhecimento de qualquer acordo de doação.
O empresário defende que as músicas inéditas sejam exploradas por meio de licenciamento, e não de cessão, garantindo que no futuro o próprio Léo decida o destino do acervo. As negociações, porém, estão suspensas até que Murilo Huff assine os contratos. A Som Livre reiterou ser a gravadora exclusiva de Marília e responsável por futuros lançamentos em parceria com a família. Ruth Dias e Murilo Huff preferiram não se pronunciar.
