Remake de Vale Tudo expõe o passado: Globo mudou trama para ‘caber’ no Brasil de hoje

Novela adaptada por Manuela Dias incorpora avanços digitais e novas atitudes sociais em relação à versão original.

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A música de abertura de Vale Tudo ainda clama por um país mais justo, mas a nova versão da novela reflete um Brasil bem diferente daquele de 1988. Na adaptação de Manuela Dias, exibida 37 anos após o original de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, diversas mudanças foram feitas para atualizar a trama ao presente. Questões como tecnologia, comportamento social e preocupações ambientais, que eram pouco discutidas antes, agora fazem parte da narrativa. Ao todo, onze aspectos centrais foram modificados para dialogar com a realidade atual.

Influência digital e mercado contemporâneo

O desejo de ascensão de Maria de Fátima foi um dos elementos mais atualizados. Se antes ela sonhava em ser modelo, agora busca o estrelato como influenciadora digital, refletindo o apelo das redes sociais na vida dos jovens. A Tomorrow, que era uma revista impressa, virou uma agência de conteúdo digital, produzindo material para redes, vídeos e campanhas online — um retrato fiel do novo mercado da comunicação.

Outro ajuste relevante foi o personagem Jarbas. De taxista na versão original, ele passou a ser motorista de aplicativo, profissão inexistente nos anos 80, mas bastante comum atualmente. A mudança reflete como a tecnologia transformou até mesmo as formas de trabalho e mobilidade urbana.

O impacto tecnológico e social na narrativa

Ivan, que antes era operador de telex, agora, começou atuando como analista de suprimentos na TCA. A modernização do personagem também trouxe mudanças em uma das tramas centrais: a falsa acusação de Maria de Fátima. Em vez de plantar um isqueiro, como em 1988, ela utiliza um aplicativo de entrega para criar uma situação que incrimina Ivan. A trama, embora mantida, foi reinventada para refletir os recursos tecnológicos de hoje.

Logo no primeiro capítulo da nova versão de Vale Tudo, uma cena emblemática causou forte repercussão: Raquel leva um tapa de Rubinho. Diferente da versão original de 1988, em que a personagem permanecia calada após a agressão, agora ela reage imediatamente, revidando o golpe e deixando claro que não aceitará nenhum tipo de violência. A mudança é simbólica e reflete a transformação da sociedade nas últimas décadas. Em um tempo em que a violência doméstica era muitas vezes ignorada ou naturalizada, hoje há leis específicas, como a Maria da Penha, criada em 2006, que reforçam o direito à proteção e à resposta imediata diante do abuso. A cena mostra que, mesmo mantendo a essência da trama, a novela se adapta aos novos tempos, retratando um Brasil mais consciente e combativo diante das injustiças.