Troféu Imprensa: o festival de bajulação que o SBT chamou de premiação

Em vez de premiar os melhores da TV, o SBT transformou o Troféu Imprensa em vitrine própria — com votos questionáveis, favoritismo descarado e constrangimento ao vivo.

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Eu cresci assistindo ao Troféu Imprensa. Era quase um ritual. Silvio Santos no comando, os grandes nomes da TV reunidos, debates acalorados entre jurados de peso… parecia algo sério. Mas o que eu vi nesse último domingo, dia 4, me fez sentir como se estivesse assistindo a um programa institucional do SBT — não uma premiação de credibilidade. O Troféu Imprensa 2025 não premiou os melhores da TV. Premiou os da casa. Premiou quem bate ponto ali dentro. Virou Troféu Empresa, e das mais descaradas.

A cada categoria anunciada, era quase uma esquete cômica. Os jurados, em sua maioria, têm algum vínculo com o SBT. Ou são contratados diretos, ou têm um pezinho lá dentro. A bancada parecia mais uma reunião de RH do que um júri independente. Resultado? O SBT levou 10 prêmios nas categorias avaliadas pelos jurados. A Globo, que ainda lidera audiência e repercussão, ficou com 6. O resto sobrou pra Band, Netflix e Record — um prêmiozinho pra cada, só pra não dizer que ignoraram.

Prêmios guiados por ranço, não por mérito

Mas o problema nem é só ganhar. É como ganhar. Na categoria Melhor Jornalístico, por exemplo, o SBT Brasil levou a melhor — isso mesmo, na frente do Jornal Nacional, que acabou de protagonizar uma das coberturas mais importantes do último ano, nas enchentes do Sul.

E quando um jurado tem a cara de pau de dizer no ar que “o Jornal Nacional está um saco, tendencioso e obsoleto”, e ainda faz piadinha, com os apresentadores rindo como se estivessem num bar, a gente percebe que ética e imparcialidade não estavam no roteiro. Estavam de folga.

Documentário institucional premiado com discurso pronto

A coisa beirou o ridículo em outras categorias. Na de Melhor Documentário, por exemplo, todos os jurados votaram em “Silvio Santos: Vale Mais do que Dinheiro”, uma produção do próprio SBT sobre o dono do SBT. E aqui, preciso deixar claro: eu sempre fui fã de Silvio Santos. O cara era um ícone, um gênio da TV.

Mas isso não me impede de enxergar o óbvio: colocar um documentário encomendado pela casa pra disputar com produções como Paquitas (Globoplay) e Luiz Melodia – No Coração do Brasil, que foi premiado em festivais nacionais e internacionais, é desonesto com o público. Um dos jurados ainda teve a coragem de dizer, ao vivo, que nem assistiu ao documentário do Melodia. E mesmo assim votou. Isso não é homenagem, é marmelada.

Emocionado antes de vencer

E aí vem a categoria Melhor Humorista. Tatá Werneck e Paulo Vieira, nomes respeitados, em alta, com audiência e relevância nacional. Quem ganhou? Tiago Barnabé, que faz a mesma imitação da Narcisa no SBT há mais de 10 anos. Antes do resultado, ele já estava na plateia chorando, emocionado. Cena montada? Parece. Premiação séria? Longe disso.

E nem vamos falar da cereja do circo: Patricia Abravanel, apresentadora da noite, ganhando como Melhor Apresentadora. Celso Portiolli, também apresentador da noite, ganhando como Melhor Apresentador. Isso já não é nem mais premiar os colegas — é se premiar no espelho. 

Um programa que virou reunião de condomínio televisivo

A verdade é dura, mas precisa ser dita: o Troféu Imprensa perdeu o que tinha de mais valioso — a credibilidade. Hoje, virou vitrine institucional de uma emissora tentando manter relevância com tapinhas nas próprias costas. Não é mais sobre quem fez o melhor trabalho, quem brilhou de verdade, quem emocionou o público. É sobre quem está no camarim da casa.

O pior é ver profissionais competentes, com anos de carreira, sendo ignorados por conveniência. William Bonner, César Tralli, nomes que carregam a credibilidade do jornalismo nas costas, foram preteridos em favor de escolhas que parecem feitas por afinidade, não por mérito. É como se o prêmio tivesse virado um joguinho de “quem eu gosto mais”, e não “quem fez melhor”.

O SBT continuará fazendo o prêmio, claro. Mas que tenha coragem de mudar o nome para Troféu da Casa. Porque não é mais um reconhecimento da TV brasileira — é um selinho de “eu me amo” colado em tudo que a emissora ainda tenta proteger.

Vale ressaltar que as opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem, necessariamente, a posição da i7 Network. Sempre incentivamos a análise crítica e a busca por informações embasadas antes de formar qualquer opinião.