Os telespectadores que estão acompanhando a novela Vale Tudo testemunharão nos próximos capítulos não apenas reviravoltas na trama central, mas também mudanças significativas na composição do elenco de apoio.
O remake de 2025, assinado por Manuela Dias, tem feito ajustes pontuais que, embora sutis em alguns momentos, afetam diretamente o destino de personagens que tiveram importância na versão original exibida em 1988. É o caso de Íris (Cristina Galvão) e sua avó, dona Pequenina (Lourdes Mayer), cujas trajetórias podem ser completamente descartadas na nova leitura da história.
Íris foi disputada por Poliana e Jarbas na Vale Tudo original
Na obra original de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, Íris surgiu na trama como a substituta de Aldeíde (Lilia Cabral) na TCA. Extremamente tímida, contrastava com a irreverência da avó e logo se envolvia em uma curiosa disputa afetiva entre Poliana (Pedro Paulo Rangel) e Jarbas (Stepan Nercessian). A subtrama misturava romantismo, rivalidade e até elementos questionáveis — como a insinuação machista sobre a virgindade da personagem, que acabou se casando com o irmão de Aldeíde no final da novela. Era uma trama paralela com toques cômicos, mas que refletia valores e temas de outra época.
Segundo Débora Lima, colunista do Notícias da TV, com as atualizações promovidas por Manuela Dias, o cenário mudou consideravelmente. Jarbas (agora vivido por Leandro Firmino) é casado com Consuelo (Belize Pombal), relação inexistente no original, onde ambos eram irmãos. Essa reconfiguração não apenas elimina a possibilidade de um triângulo amoroso, como torna desnecessária a presença de Íris como figura de interesse romântico. Poliana, por sua vez, foi ressignificado como um personagem assexual, o que traz um debate contemporâneo e legítimo sobre diversidade sexual — mas que também esvazia a antiga narrativa da disputa por Íris.
Zezé também foi cortada do remake
Essa não será a única exclusão relacionada às mudanças no enfoque do remake. Outro exemplo notável foi a retirada de Zezé, empregada vivida por Zeni Pereira na versão de 1988. A autora optou por uma nova dinâmica na família Meirelles, eliminando o papel da doméstica e apresentando os personagens cuidando das tarefas da casa por conta própria. A decisão também dialoga com uma nova proposta de representatividade e distribuição de papéis em cena, sem deixar de refletir uma revisão crítica sobre estereótipos de classe social presentes em novelas passadas.
A cada novo capítulo, Vale Tudo segue como um reflexo não apenas da sociedade brasileira retratada na trama, mas também do tempo em que é produzida. As ausências de personagens como Íris e Pequenina não significam necessariamente perdas para a história, mas sim uma adaptação às novas pautas e diretrizes de uma dramaturgia que tenta se manter atual e socialmente relevante — mesmo ao revisitar um clássico.