A nova versão da novela Vale Tudo, que estreia na próxima segunda-feira (31) na Globo, terá como missão não apenas revisitar uma das tramas mais emblemáticas da teledramaturgia brasileira, mas também atualizá-la para o contexto de 2025. Sob a responsabilidade da autora Manuela Dias, o remake será repleto de mudanças necessárias para que a narrativa se mantenha relevante diante das transformações sociais, culturais e tecnológicas que ocorreram desde a exibição original, entre 1988 e 1989.
Segundo Walter Felix, colunista do Na Telinha, apesar de o enredo central da novela ainda dialogar com temas contemporâneos como corrupção, ambição e desigualdade social, cinco pontos-chave da história exigirão reformulações significativas para se ajustarem aos novos tempos.
Sonho de Maria de Fátima
A primeira grande mudança já foi anunciada: Maria de Fátima, vivida agora por Bella Campos, não sonha mais com a carreira de modelo, como na versão original. Em vez disso, ela deseja se tornar uma influenciadora digital, refletindo o papel central das redes sociais na vida moderna. Essa atualização promete trazer novos conflitos e possibilidades dramáticas, especialmente relacionados à busca por fama, engajamento e poder nas plataformas digitais. Já Fernanda, interpretada por Ramille, não enfrentará mais os dilemas ligados à virgindade, considerados ultrapassados para os padrões de uma jovem contemporânea. A personagem, nesta nova leitura, terá questionamentos mais condizentes com os desafios afetivos e existenciais da juventude atual.
Direitos dos casais homoafetivos
O núcleo de Cecília (Maeve Jinkings) e Laís (Lorena Lima), que na versão original abordava a ausência de direitos legais para casais homoafetivos, também será transformado. Como o reconhecimento jurídico dessas uniões é hoje uma realidade no Brasil, o drama passará a tratar de outras questões pertinentes, como os desafios da adoção por casais do mesmo sexo. A proposta é manter a relevância social da trama, mas sem repetir discursos já superados. A mudança demonstra a intenção do remake de abordar com sensibilidade e realismo os novos contornos da diversidade familiar no país.
Maionese envenenada
Um dos momentos mais lembrados da versão original envolve o envenenamento da maionese fornecida pela empresa de Raquel (Taís Araujo), a protagonista da história. No folhetim de 1988, ela descobre o plano de Odete Roitman (Débora Bloch) e envia amigos e funcionários para impedir, restaurante por restaurante, que o prato seja servido aos clientes. Em 2025, porém, a mesma situação dificilmente se sustentaria no roteiro: uma simples ligação de celular ou uma mensagem de grupo no WhatsApp resolveria o problema em questão de minutos. Esse trecho exemplifica como os avanços tecnológicos poderão comprometer a tensão de certas cenas, exigindo adaptações criativas da autora para manter o suspense e a urgência dos acontecimentos.
De quem é o filho de Maria de Fátima
Outra trama que precisará ser revista envolve a gravidez de Maria de Fátima, que mantém um caso com César (Cauã Reymond) mesmo estando casada com Afonso (Humberto Carrão). O suspense gira em torno de quem é o pai do bebê, revelado por um teste de DNA — algo que, nos anos 1980, ainda era uma novidade e só podia ser realizado após o nascimento da criança. Hoje, com exames de paternidade mais acessíveis e até realizados durante a gestação, o mistério perderia força rapidamente. Para manter o drama e o interesse do público, Manuela Dias terá que encontrar uma solução criativa ou reestruturar completamente esse núcleo.
Quem matou Odete Roitman?
Por fim, a icônica pergunta “Quem matou Odete Roitman?” talvez não encontre espaço para o mesmo impacto no remake. Em tempos de câmeras de segurança por todos os cantos, especialmente em condomínios de alto padrão, seria improvável que alguém cometesse um assassinato sem ser flagrado. Além disso, o perfil da vilã pode exigir um novo desfecho e uma nova construção em torno do mistério. Na versão original, Leila matou Odete acreditando que estava atirando em Maria de Fátima, após descobrir a traição de sua amiga com seu marido. Recriar esse clímax de forma surpreendente e plausível será um dos maiores desafios da nova adaptação. O sucesso da empreitada dependerá da habilidade da autora em equilibrar homenagens ao clássico com a necessidade de reinvenção.