Em um universo no qual quase todos os temas já foram explorados em séries televisivas, é raro quando uma série consegue inovar em uma temática ou abordagem, e The Good Place conseguiu fazer ambos, sendo concebida como uma série de comédia filosófica, o que por si só é digno de nota. E após quatro intrigantes e inesperadas temporadas, encontra seu final de modo emocionante.
De forma geral, a série aborda a questão de perspectiva, e das noções pré-concebidas de certo, errado, céu e inferno. Demônios e seres do lugar bom são parte de uma intricada máquina de justiça etérea (que inclui porteiros, uma juíza e diversos órgãos burocráticos), e os seres humanos após sua morte encontram justamente essa estrutura curiosamente imperfeita.
Então, ao longo das quatro temporadas, quatro humanos falecidos com personalidades totalmente diferentes, bem como seu arquiteto pessoal (um tipo de user Experience) e sua assistente (a Alexia definitiva) passeiam pelo pós vida, em uma trajetória que poderia ser comparada com a jornada descrita por Dante Alighieri. Lógico que com muito mais humor e com menos rimas, mas ainda assim uma lembrança válida dada a temática filosófica.
Com um mistura de personagens diferentes, tanto na personalidade como no grau de complexidade, The Good Place soube explorar as nuances da condição humana de uma forma surpreendentemente simples e agradável, gerando momentos de ternura sempre com muito humor e uma boa dose de reflexão.
Assim, não deixa de causar certa surpresa quando, em sua reta final, a série assume um tom mais nostálgico, e ao apagar das luzes consegue arrancar diversas lágrimas pelo justo e bem pensado final para cada um de seus protagonistas, lágrimas que caem enquanto um sorriso se forma, como um arco-íris depois da chuva. Parabéns e obrigado Michael Shur.