Passaram-se três décadas desde que a novela Renascer original foi ao ar, uma obra marcada pela assinatura de Benedito Ruy Barbosa, agora revisitada por Bruno Luperi em um remake que promete respeitar a essência da trama original, enquanto se adapta às sensibilidades contemporâneas.
Bruno Luperi, neto de Barbosa, encarou o desafio de atualizar a narrativa, mantendo-se fiel ao legado de seu avô, mas sem ignorar as mudanças sociais que exigiram ajustes significativos na história.
Mudanças de Renascer
Um dos exemplos mais notáveis dessas alterações é a eliminação de cenas que, embora inofensivas à época, hoje seriam consideradas inaceitáveis. Um desses momentos ocorreu quando José Inocêncio, personagem interpretado por Antonio Fagundes, observou uma criança servindo bebidas no bar de Norberto, uma representação clara de exploração de trabalho infantil, algo impensável para os padrões atuais e que foi devidamente ajustado no remake, onde Norberto, agora interpretado por Matheus Nachtergaele, trabalha sozinho.
Segundo Odara Gallo, colunista do Notícias da TV, houve também uma revisão cuidadosa do vocabulário utilizado na novela, especialmente em relação a termos racialmente carregados como “mulata”, que foram removidos da nova versão. Esta mudança reflete uma compreensão mais profunda e respeitosa das questões raciais, alinhada com as atuais discussões sobre racismo e estereótipos.
Machismo e transfobia foram tirados da trama
Outra atualização significativa diz respeito à maneira como a sexualidade e as relações de gênero são abordadas na trama. Diálogos e cenas que antes continham um forte teor machista foram cuidadosamente reavaliados e, em muitos casos, excluídos ou alterados para se adequarem a uma visão mais respeitosa e igualitária das relações entre os gêneros. Em uma das cenas de 93, por exemplo, Zinho e João Pedro falaram abertamente sobre o corpo de Ritinha e do desejo de “pegar no peitinho” dela, algo totalmente impensável para o horário nobre da TV Globo nos dias de hoje.
Uma mudança particularmente importante envolveu a personagem Buba, que na versão original era retratada como intersexo, e na versão atual é uma mulher trans. Em 93, Buba teve que lidar com uma situação que hoje seria vista como transfóbica. Na época, a personagem foi obrigada a dizer o seu nome de batismo para José Venâncio, o que causou muito constrangimento. Na versão atual, Venâncio chegou a questioná-la sobre o tema, mas tomou uma grande invertida da personagem, que disse que não revisitaria suas antigas feridas.