Bram Stocker foi um escritor irlandês que escreveu Drácula em 1897 na forma de romance epistolar, ou seja, uma narrativa feita por uma série de cartas, relatos de jornal, e registros de bordo, e à época foi considerado um romance de ficção gótica, inspirando milhares de autores e formatando a visão predominante que se tem dos vampiros, ainda que não os tenha inventado. O livro foi o alicerce de diversos filmes, consagrando os atores que encarnaram o príncipe dos vampiros, desde Bela Lugosi em 1922, Christopher Lee em 1970 e por fim Gary Oldman no filme de 1992, tido como a obra definitiva. Isso até que a Netflix e a BBC de Londres resolveram fazer uma série atualizando o mito.
Tal qual feito com Sherlock Holmes, trazido aos tempos modernos pela equipe da BBC, o desafio foi atualizar o Vampiro de mais de 5 séculos, em uma temporada curta, de episódios longos como filmes, e quase fechados em si mesmos, sendo a primeira temporada dividida ao meio quase como uma ópera, sendo metade transcorrida em sua época original, trazendo os personagens clássicos e já conhecidos, e ficando a surpresa para os tempos modernos, onde o conceito do Drácula é explorado à luz da modernidade.
Claes Bang, ator dinamarquês não tão conhecido, trouxe à figura do Drácula tudo que dele se espera: refinado, elaborado, experiente, cínico e completamente envolvente. O terror existe e faz parte do universo vampiresco, mas anda de mãos dadas com a sedução da vida eterna, e do poder de envolver a todos. E Bang dá vida a um Drácula que sabe a hora de fazer valer todo e qualquer elemento de seu arsenal de técnicas, desde a sedução ao terror e bajulação. E a ele se contrapõe a também excelente atuação de Dolly Wells, a Van Helsing da história, estudiosa e mulher à frente de seu tempo, seja ele qual for. Jonathan Harker assume características do personagem original mas também do servo Reinfeld.
Visualmente, a fotografia é uma obra de arte, e a maquiagem e figurino seguem a excelência esperada dos melhores filmes atualmente. O elenco preciso e a narrativa envolvente partem de uma zona de conforto meio tediosa e logo aceleram até jogar o espectador no desconhecido, ansiando pelo rumo a se dar para um Drácula que por quase milenar que seja, exibe aquela característica exigida das gerações atuais: adaptabilidade e dinamismo.
Um final surpreendente dividiu os fãs, acostumados à finais água com açúcar, vampiros que brilham ao sol, e espantam como vampiros ao sol sempre que vem algo que fuja à sua ideia de final. Bravo.