Quando foi anunciado que a Disney faria a continuação da saga Star Wars, muitos ficaram com medo do que vinha pela frente, e embora O Despertar da Força tenha sido um filme muito interessante e bem recebido, ficou o receito que se trataria de uma nova edição de velhos conflitos e arcos narrativos com novos personagens. E Os Últimos Jedi vem para quebrar essa percepção.
É muito difícil falar dos Últimos Jedi sem entregar nada da trama. Cada aparição, cada ausência e cada desenvolvimento é um spoiler em potencial, devido à intensidade do filme, em suas quase 3 horas de projeção. Rian Johnson toma o controle da franquia na mão, e ao roteirizar e dirigir, tem total controle narrativo e artístico, uma ousadia até então impensada para um filme dessa magnitude. E magnífico é o resultado entregue.
Nenhum filme em toda franquia conseguiu extrair uma melhor atuação de seus atores. O tempo de tela de cada um parece milimetricamente dividido, e muito bem aproveitado.
Adam Driver finalmente entrega um Kylo Ren à altura de seu avô Darth ao parar de tentar copiá-lo, enquanto todos os demais parecem se sentir à vontade em seus papéis, contribuindo para a fluidez do filme, que divide sua trama narrativa entre a história de Luke-Rey-Kylo de um lado, e resistência com Poe Dameron, Leia, Finn versos a Primeira Ordem de Hux, Snooke e Ren de outro. E algo interessante para se perceber é que nunca Mark Hamil teve tamanha desenvoltura dramática como nesse filme, onde parece ter incorporado nuances de outros papéis interpretados, como de seu Coringa.
E se Luke é a âncora dramática de um lado, Leia é de outro, alternando as nuance de mãe, irmã, professora e líder, causando muita comoção pela morte prematura de sua atriz. Impossível não se emocionar com a interpretação de Carrie Fisher que faleceu logo após filmar o papel que havia lhe consagrado com 18 anos. Descanse em paz, princesa.
Só que não se trata de um episódio nostálgico, muito pelo contrário. Embora respeite e homenageie o passado, Rian deixa para trás o Império Contra Atacada e quebra as expectativas de um remake do clássico, se distanciando em diversos aspectos, tando do Despertar da Força como da trilogia original, sendo que parece ter tomado emprestado de Rogue One a noção que uma rebelião não é uma estrutura coesa e harmônica, da mesma forma que uma ordem militar está sujeita à disputas de poder.
Esse é um aspecto que traz maturidade e modernidade ao enredo, auxiliado pela quebra de um maniqueísmo superficial que sempre guiou os filmes da franquia até agora. Finalmente existe um lado da luz onde as escolhas nem sempre são acertadas, como um lado negro que não busca a maldade gratuita. Assim, personagens e propósitos se misturam, se mesclam e depois voltam a se separar, como água e óleo. Nunca a mudança de lado pareceu tão plausível, e podemos ver o lado oposto de cada um dos icônicos Jedi e Sith. Afinal, sem luz não há sombra. Propósito define esse filme. Talvez o surgimento dos Jedi Cinza.
Esteticamente, temos o melhor da série, talvez o principal toque Disney. Os aposentos de Snooke são de um tom vermelho imponente, contratastando com um preto minimalista, mesmas cores de seus guardas imperiais, repaginados como tudo no filme. E esse cenário presenteia com uma cena que já nasceu um clássico. Outro acerto foi justamente a criação de novas criaturas, interessantes e fáceis de caírem no agrado geral, ao contrário dos primeiros três filmes, especialmente dos Gungans.
Percebe-se assim que todos elementos clássicos da franquia estão presentes, mas a grande sacada é que não aparecem da forma que se espera. Rian Johnson quebra a fórmula de quase meio século e revisita a força, os Jedi, os Sith e todos os elementos dessa galáxia, posicionando no tabueliro todas as peças para um desfecho épico, e ao fazer isso, vira os olhos da saga não mais à geração que cresceu idolatrando Luke, Obi Wan e Yoda, mas à geração porvir, entretendo, emocionando e divertindo a todos, velhos e novos fãs. E faz isso com maestria, criando um filme que já é tido por muitos como o melhor da saga, e pelos demais como um dos melhores, talvez somente atrás de O Império Contra Ataca.