Através do Aranhaverso revoluciona uma vez mais a animação

Continuação do ganhado do Oscar consegue ir além do original e impressionar além da expectativa

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Alguns filmes simplesmente mudam a forma de se fazer cinema e de se consumir a sétima arte, e não são poucos os exemplos: do primeiro filme falado, ao cinema com cores, passando por Matrix em 1999 e seu “bulletime”, ao espetáculo visual do primeiro Avatar de James Cameron em 2009. A animação, enquanto subgênero, também apresenta seus momentos marcantes, desde Willie the Boatman que foi a pedra de fundação da Disney, a provocativa Dreamworks e seu Shrek, o único Studio Ghibli e a disruptiva Pixar: todas elas assistiram boquiabertas enquanto a Sony trazia o Aranhaverso para mudar tudo. E agora Através do Aranhaverso revoluciona tudo uma vez mais.

Através do Aranhaverso traz um bombardeio estético aos olhos dos incrédulos expectadores: as cores de fundo mudam de cena em cena (uma técnica usada por Maurício de Sousa), mas muda também o estilo gráfico com os quais os cenários e os personagens são desenhados: diferente do primeiro filme que combina diferentes aranhas em diferentes estilos, aqui os mesmos personagens são reeditados constantemente, às vezes para maravilhar, às vezes para passar uma mensagem ou um tom. É o sentido de aranha atravessando a quarta parede. E tudo isso com uma trilha cuidadosamente escolhida, honrado a origem de Miles e a estética urbana, mas que evolui para os demais protagonistas.

Contudo de nada adianta um show de luzes vazio, como foi Avatar 2. E aí entra a grandiosidade da continuação do Aranhaverso: uma narrativa extremamente bem construída, que borra os limites entre heroísmo e vilanismo: afinal, quem é o vilão e quem é o mocinho da história? A situação chave que antagoniza Miles ao Aranha 2099 e toda sua “Sociedade Aranha” não poderia ser mais real e mais humano: o quanto é possível pensar no bem maior quando seu universo é ameaçado? Até mesmo o vilão oficial tem uma bela construção que gera reflexão.

Toda essa narrativa, completa e complexa em iguais medidas, ganha força na dublagem excepcional dos protagonistas, com destaque para a já amada Gwen Aranha de Hailee Steinfield e de Oscar Isaac, além de diversos convidados de honra, que se tornam uma atracão à parte na identificação do rosto por trás da voz.

Em pouco mais de duas horas, nenhum minuto parece desperdiçado ou supérfluo: todos absolutamente necessários para contar uma história de múltiplos protagonismos, tantos quantos os estilos gráficos dessa verdadeira Graphic Novel em movimento. Uma obra completa que acaba com o gancho perfeito para sua esperada conclusão, Através do Aranhaverso Parte 1 revoluciona a forma de se assistir uma animação e esbaja originalidade, narrativa poderosa e um impressionante arcabouço de técnicas gráficas que devem arrebanhar diversos prêmios além do imediato Status de grande filme. Bravo!

*As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal