A grande onda de filmes de heróis e vilões acabou criando uma certa métrica do que os filmes de heróis precisam ser: alguns precisavam ser épicos (Vingadores), emocionantes (Logan) ou totalmente disruptivos (Deadpool).
Mas parece que uma característica foi deixada para trás: a diversão. Aquele senso de aventura menos grandioso, e que sempre casou, por exemplo, com o Homem Aranha.
Assim, não é de se estranhar que Venom, personagem derivado das histórias do amigão da vizinhança, tenha se focado mais nesse aspecto – tendo sido massacrado pela crítica especializada, ainda que injustamente. Um grande filme? Certamente não é, mas também não é uma perda de tempo nem um lixo imprestável, como muitos disseram.
Tom Hardy é um ator diferenciado, que consegue interpretar diferentes tipos e sempre agregar valor ao personagem. Nesse caso, tanto o Venom em si quanto o Eddie Brock – a quem Hardy interpreta – sofrem uma releitura considerável, de forma a afastar sua história da do Homem Aranha, o que implica em mudar sua origem e até mesmo algumas características do próprio humano envolvido, a fim de viabilizar o clássico vilão como algo a mais que um monstro.
Essa linha narrativa conversa com alguns desenvolvimentos posteriores do alienígena, o que atribui certa profundidade ao personagem. Recheado de efeitos especiais, fica claro o “recurso Tubarão” no longa, segurando o suspense antes de apresentar o monstro em questão.
Um recurso sobre isso é a personalização da voz em segundo plano, o que gerou um efeito interessante, típico de Hardy: criou uma voz própria para o simbionte; lembrando muito a voz de Megatron.
O enredo, bem fechado e atemporal, funciona de forma modular: o personagem passa a funcionar independentemente do Homem Aranha, mas sem nenhum impeditivo a ser integrado na linha do tempo recém reinicializada do aracnídeo, o que comercialmente é uma boa saída em face da fome da Marvel em rever seu ativos.
O gancho da cena pós créditos traz um personagem muito forte da história do Venom, a ser protagonizado por um ator excepcional de Hollywood em caso de continuação. Basta que se dê uma chance à diversão, que sobra no filme do começo ao final, valendo o ingresso – apesar de tudo.