Os longos comerciais da Marvel podem ser melhor aproveitados

Coluna de opinião, terça-feira, 22 de novembro, por Luiz Henrique Cotta.

PUBLICIDADE

Tento escrever esse texto – que espero breve – quase que como uma encomenda à amiga Mayra. A brevidade tem a ver com a grande dimensão de minha ignorância acerca do tema: filmes da Marvel.

Assisti ao primeiro Homem de Ferro com alguma antecipação, mas me lembro de ter achado muito rápido, bastante pirotécnico e com uma história fraca. É o modelo básico repetido algumas vezes depois: o mocinho cria algo que o vilão tenta usar para o mal da maneira menos discreta possível.

De lá pra cá, houve alguns temas interessantes e algumas bombas terríveis, como Homem Formiga e Eternos, que falham em ser coesos com o próprio universo criado (como é possível ir ao universo quântico, se a miniaturização acontece pela redução do espaço entre os átomos? Como uma formiga pode carregar o peso de um homem miniaturizado? Um prédio num chaveiro?). E houve acertos de crítica e bilheteria com foi Pantera Negra, de 2018. Até onde tive paciência de acompanhar o tal MCU, foi o melhor filme que lançaram, não sem problemas. A fórmula foi ligeiramente subvertida, mas, desta vez, o vilão Kilmonger, tinha razão.

De toda forma, como já foi escrito e apresentado algumas vezes por escritores melhores, negros, melhor posicionados para a crítica que fizeram, não posso deixar de apresentar aqui um ponto importante. Por mais que a experiência de ver protagonistas negros, heróis vestidos de cores e temas africanos, é difícil encarar a cena da luta entre Kilmonger e T’challa sem perceber um estereótipo na disputa.

Uma nação avançada como Wakanda, com uma cadeira na ONU, deveria ter desenvolvido tecnologias sociais mais avançadas do que uma luta tribal para disputa de poder e do título de Pantera Negra. Não consigo deixar de entender que há uma aspecto selvagem na maneira como apresentam o caso. É uma maneira, parece-me, de perpetuar algum isolamento, ressaltando a mazela de conflitos como em Ruanda ou Somália. Não importa o que se faça no continente, africanos são inclinados à selvageria das guerras tribais.

Ainda é possível entender que uma nação africana estaria disposta à pobreza do continente, por ato deliberado de seus governantes, para proteger suas riquezas naturais, no lugar de estabelecer relações internacionais para o desenvolvimento de todos. “A África é subdesenvolvida por que quer” e não porque foi violada, século após século, por um mundo branco voraz e cruel. No final, a nova perspectiva só é possível por causa de um líder revolucionário que, apesar de estar certo, precisava ser detido com apoio da agência internacional (estadunidense). Ao resto do mundo, apresenta-se um líder negro “domado” e não uma voz verdadeiramente negra, que ressente da violência de séculos de abuso.

Chorei a morte de Chadwick Boseman por quase 10 dias. A importância de um protagonista negro, de tanto alcance, certamente foi – e ainda é – algo sem precedentes, rivalizado, quicá, por Nat King Cole, e a imensa audiência branca que seu programa na NBC teve – até que tentaram “embranquecê-lo”. A despeito do sucesso de outros grandes atores negros, como Denzel Washington, Michael Clarke Duncan e, muitos antes, Sidney Poitier ou Harry Belafonte, Chad foi o que mais se aproximou de uma nova geração de jovens e crianças, num tempo em que já entendiam ser possível ser presidente dos Estados Unidos. Haveria – e há de ser, por sua obra – um herói de muitos feitos.

O universo Marvel, contudo, por mais que tente ser inclusivo, com um vilão onipresente como Jonathan Majors, heroínas como Danai Gurira, Lupita n’Yongo e a impecável Angela Bassett, não me parece ter escapado de aguá-los. Na altura em que escrevo este texto, ainda não assisti ao Wakanda Forever, mas desconfio do êxito em representar mulher negras fortes, depois de terem falhado com a Viúva Negra ou a Wanda Maximoff, com machismos e estereótipos perversos.

Torço por mais heróis – e protagonistas negros. Talvez a Marvel mereça louro por arriscar. Mesmo assim, torço por um tempo em que um mago branco, arrogante e estranho não seja mais capaz do que uma jovem latina ou um ressentido mago negro com mais experiência. Que um playboy beberrão não seja mais eficiente do que um soldado negro de carreira.

Esta é uma coluna de opinião e não reflete o posicionamento da i7 Network.