Naves aparecem na Terra. O princípio de quase todo filme de invasão alienígena emula uma atmosfera de deja vu logo no início de A Chegada, filme indicado a diversos prêmios, dirigido pelo já consolidado cineasta Denis Villeneuve.
O filme começa a se distanciar dos seus colegas de gênero quando a abordagem imediata que é dada não é necessariamente a militar, nem a holística, mas sim uma postura pragmática que orbita em torno da primeira pergunta que quase nunca é feita: “O que vocês querem?”. E para responder essa pergunta são chamados uma linguista e um professor de matemática, interpretados pelos protagonistas Amy Adams e Jeremy Renner, sóbrios e precisos em seus papéis.
Além do já tradicional pânico de “efeito manada” que ocorre no mundo, a trama se complica ao ser revelado ao expectador que outras 11 naves, em outros 11 países haviam chegado, e que então outras 11 abordagens estão sendo utilizadas para se entender o propósito dos visitantes, cada qual fazendo uso de sua cultura, de sua perspectiva de mundo e de suas próprias linguagens para decodificar as mensagens emitidas. E uma corrida contra o tempo se inicia, enquanto o suspense começa a escalonar o medo e estimular respostas agressivas.
Nesse ponto, o filme se torna somente comparável com Contatos Imediatos de Terceiro Grau e bem próximo de Contato, filme de 20 anos que conseguiu tocar no paradoxo temporal com a mesma sutileza de A Chegada. E justamente aí reside a beleza do filme, quando a percepção do outro se torna menos relevante que a percepção íntrinseca de sí mesmo, como se as naves nada mais fossem do que gigantestos espelhos que refletem a essência daqueles que buscam exergar algo.
Esse convite à auto-análise da humanidade enquanto espécie é a fortaleza do longa, e talvez a razão de tanta discordância e tantas percepções dissonantes, afinal é isso que se tem quando se olha no espelho: uma miríade infinita de respostas.