Justiceiras entretém seguindo tradição de bons filmes teens

Comédia de vingança da Netflix traz atores e diretora em ascensão em trama envolvente e divertida.

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Justiceiras estreou sem grande alarde na Netflix, como mais um filme teen, bobinho e bom para passar o tempo, trazendo duas atrizes consagradas em séries juvenis para segurar a trama: Camila Mendes, a amada Veronica Lodge de Riverdale, e Maya Hawke, mais conhecida como a Robyn de Stranger Things. Filme Bobinho como toda comédia teen, certo? Errado. A primeira dica vem logo da duração do filme: duas horas, contra os famosos noventa minutos que caracterizam qualquer bom folhetim adolescente.

Na trama, o expectador conhece Dre, uma adolescente da classe trabalhadora que através das amizades certas, foi alçada ao posto de abelha rainha de um elitizado colégio preparatório para a Ivy League (melhores universidades americanas), reinando sobre uma realeza endinheirada, até que tragicamente perde seu posto e seu status. E aí ela conhece a desajustada Eleanor, vítima da maldade adolescente tanto quanto ela, e juntas, orquestram um plano maligno para se vingar daqueles que as feriram – incluindo a divertida passagem de Sophie Turner, a eterna Sanda Stark, agora crescida.

Dirigido por Jennifer Kaytin Robinson, co-roteirista de Thor: Amor e Trovão, o filme vai se desenrolando dentro de uma expectativa razoável, sempre com uma fotografia deslumbrante e uma trilha sonora que começa aos poucos a fazer parte da trama e do enredo, tal qual um personagem. Rápido, inteligente e divertido, vai aos poucos prendendo a atenção do público, saindo do lugar comum do “highschool movie” aos poucos, colocando elementos dissonantes à narrativa tradicional. As mudanças são sutis e de repente o filme flerta levemente com um thriller, com reviravoltas bem planejadas que vem do ponto cego do expectador. Não por acaso se inspirou, ainda que de leve, em Alfred Hitchock e seu Pacto Sinistro, de 1951.

Delicioso para os desavisados, o filme vai abrindo suas camadas ao passar por grandes referências e homenagens cinematográficas da necessária filmografia teen, começando no inesquecível Garotas Malvadas, e passeia pelas Patricinhas de Beverly Hills até desfilar pelos grandes arquétipos teens moldados pelos filmes de John Hughes até chegar em Gatinhas e Gatões, até ter seu gran finale anunciado pelo clássico do The Verve, Bitter Sweet Symphony, que encerra de forma magnânima Segundas Intenções, o filme definitivo sobre vingança adolescente, na cena da derrocada de Sebastian e de sua irmã Kathryn, interpretada por Sarah Michelle Gellar, que não por acaso é a Diretora do colégio em Justiceiras.

Comum à primeira vista, como muitos adolescentes, Justiceiras entrega muito mais do que promete, com tributos interessantes a clássicos do passado, sem deixar de trazer uma visão atual da adolescência moderna. Sempre alinhando os elementos técnicos do filme com seus aspectos narrativos e uma interpretação segura da dupla principal, com destaque para a Maya, já que Camila faz uma outra versão de Verônica – ainda que esta funcione muito bem, o filme surpreende por ter mais profundidade e provocar reflexões interessantes, enquanto diverte e entretém, deixando uma coisa clara: importante ficar de olho nessa diretora e em suas futuras obras.