Unificação italiana: como a Itália se tornou um país?

A história italiana é bastante característica e fascinante. A terra da pizza e do gelato foi um dos últimos países europeus a se unificar

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Estamos acostumados a escutar que o Brasil é um país jovem e que nossa história é recente enquanto Estado Nacional. No entanto, muita gente se surpreende nas aulas de italiano ao descobrir que a unificação italiana aconteceu ainda mais recentemente, já na segunda metade do século XIX, em 1861.

A história italiana é bastante característica e fascinante. Assim como a Alemanha, a terra da pizza e do gelato foi um dos últimos países europeus a se unificar — apesar da sua história ser, como sabemos, milenar.

Pois é, a Itália é uma das regiões mais antigas da Europa a ser habitada de forma contínua ao longo dos séculos, mas só virou um país há pouco mais de 150 anos. Curioso, não é? E hoje você irá descobrir como tudo isso aconteceu!

Raccolgaci un’unica Bandiera – O Canto dos Italianos

“Reunamo-nos sob uma única bandeira.”

Essa é uma parte do hino italiano, o Il Canto Degli Italiani, conhecido também como Fratelli D’Italia. Como não poderia deixar de ser, o hino faz muitas menções à unificação italiana e, ao longo do texto, você irá conferir algumas de suas frases mais marcantes.

Também chamada de Risorgimento, o processo de unificação do que hoje chamamos de Itália foi longo e, em muitos momentos, sangrento. Até então dividida em diversos estados independentes, o território da península italiana viveu fases muito distintas ao longo da Idade Média e Moderna. Por isso, vamos focar nos séculos XIX e XX para contar essa história.

Una speme: Di fonderci insieme – Os movimentos nacionalistas

“Uma esperança: nos unirmos.”

O século XIX foi marcado pelos movimentos nacionalistas e revoluções liberais, especialmente na Europa e América. Também chamado de romantismo nacionalista, esses grupos aspiravam a ideia de um estado nacional forte e unificado, sob uma única liderança, bandeira e crenças.

Na Itália, diversos movimentos surgiram por toda a “bota”, como os carbonários, delfos e os neoguelfos. Havia, também, os monarquistas que idealizavam a união da península sob a coroa do Reino da Sardenha.

Com muitas divergências, em comum esses grupos tinham a ambição de realizar a união dos estados ditos italianos, ou seja, que possuíam semelhanças culturais, linguísticas, econômicas e geográficas. Mas havia um problema: eles estavam fragmentados e vulneráveis depois das Invasões Napoleônicas.

Già l’Aquila d’Austria Le penne ha perdute – O inimigo externo

“A Águia da Áustria as penas perdeu.”

Outro grande obstáculo para a unificação do país era o seu poderoso vizinho, o Império Austríaco. Com um histórico prévio de atritos, os austríacos conquistaram diversos territórios no norte da Itália com o Congresso de Viena, na primeira metade do século XIX. Além disso, com seu poder, influenciavam política e militarmente os demais estados italianos.

Não bastava vencer os obstáculos internos, mas também expulsar o inimigo externo. E para tanto, foram necessárias décadas de luta e resistência, que começaram muitos anos antes da unificação e continuaram posteriormente.

As principais batalhas contra os austríacos ficaram conhecidas como Primeira e Segunda Guerra de Independência Italiana.

Uniti per Dio, Chi vincer ci può? – A Casa de Sabóia

“Unidos por Deus quem pode nos vencer?”

Após a derrota de seu pai na Primeira Guerra de Independência Italiana, o rei Vítor Emanuel II assumiu o trono do Reino da Sardenha. Em vez de se deixar abater pelo fracasso na primeira tentativa de unificar o território sob a coroa de Sabóia, o jovem monarca de 29 anos decidiu ampliar o ambicioso plano de seu pai.

Para tanto, lançou mão da modernização industrial pela qual a Sardenha passava para levantar fundos e financiar uma nova guerra. Além disso, buscou apoio internacional com ingleses, franceses e prussianos e, por fim, contou com o Conde Cavour como seu primeiro-ministro para apoiá-lo.

Stringiamoci a coorte, Siam pronti alla morte, L’Italia chiamò – A vitória

“Estreitemo-nos na coorte, estejamos prontos para a morte, a Itália nos chamou.”

O Conde Cavour foi bem-sucedido em conseguir apoio francês para uma nova guerra contra o Império Austríaco. Em troca, cederia alguns de seus territórios para o país vizinho.

Desta forma tem início a Segunda Guerra de Unificação Italiana, em 1859. E, desta vez, a vitória chegou. Com o apoio das tropas francesas, o rei Vítor Emanuel II consegue expulsar os austríacos do norte da Itália e unifica os reinos até então ocupados pelo rival.

Fratelli d’Italia, L’italia s’è desta – Enfim, a Unificação Italiana

“Irmãos da Itália, a Itália despertou.”

A partir de tal feito, outros movimentos nacionalistas se uniram à Casa de Sabóia na ideia de realizar a unificação italiana sob o Reino da Sardenha. O republicano Giuseppe Mazzini, em aliança com Giuseppe Garibaldi (o mesmo que lutou na Revolução Farroupilha, no sul do Brasil), jurou lealdade a Vítor Emanuel e passaram a travar guerras internas com outros reinos italianos.

Foi assim que anexaram o poderoso Reino das Duas Sicílias, no sul da península. Com isso, Vítor Emanuel II passou a controlar a maior parte do território italiano e se autoproclamou Rei da Itália em 1861.

Mas esse não seria o fim do processo de unificação. Ainda que a “Itália moderna” tenha nascido em 1861, o processo de unificação continuaria por mais uma década — período no qual foi travada uma nova guerra contra a Áustria (em conjunto com os prussianos) e a anexação dos Estados Pontifícios, transformando Roma na capital italiana.