Kardec conta de forma envolvente a história do pai do espiritismo

PUBLICIDADE

Allan Kardec, cujo nome de batismo é Hippolyte Léon Denizard Rivail, foi um influente educador, autor e tradutor francês. Sob o pseudônimo de Allan Kardec, notabilizou-se como o codificador do Espiritismo, também denominado de Doutrina Espírita, e em 2019 o diretor Wagner de Assis resolveu contar sua história em uma produção conjunta da Sony Pictures e da Conspiração filmes, que em quase duas horas explora a trajetória de Leon, desde seu tempo como professor, até o ápice como pai da doutrina espírita conhecida. 

Leonardo Medeiros interpreta o protagonista do filme, e consegue ser muito convincente, desde o início cético, quando colocado no filme como um professor de prestígio e notoriedade, se mostra um crítico ferrenho dos fenômenos espíritas, até o momento em que passa a utilizar métodos científicos para apurar e classificar os fenômenos e começa a se tornar o maior defensor deles, colocando em risco sua reputação e credibilidade na sociedade acadêmica francesa, sempre ao lado da sua incansável esposa e companheira Gabrielle, que deixa clara a fundamental importância de um sistema de suporte e de um companheiro para que algo grandioso possa ser realizado, pois dificilmente grandes feitos são realizados de forma completamente solitária. 

Um fato curioso sobre o filme é que se passa o tempo todo na França, sem nenhuma referência ao Brasil, ainda que seja totalmente falado em Português, e isso se deve à importância da doutrina espírita no Brasil, onde encontrou um dos terrenos mais férteis e com menos preconceito, considerando todos os lugares do mundo. Não à toa, os filmes de temática espírita bem ganhando terreno nas produções nacionais, ainda que tenha pela frente uma inglória luta em um momento na qual a ANCINE se tornou fechada à visões não tradicionais de diversos aspectos. 

Tecnicamente, o filme tem uma narrativa clara e concisa, boas atuações, inclusive de atrizes mirins, e uma direção de arte interessante, com belíssimas tomadas de Paris e o uso de música erudita em momentos específicos como uma forma de sublinhar o caráter eterno e de continuidade que a doutrina explicada pelo filme propaga, e uma direção engajada e pessoal, que busca reforçar a mensagem do filme, como em determinados momentos em que a câmera foca em espaços vazios, insinuando que talvez não estejam bem vazios. Certamente um filme que merece ultrapassar a típica rejeição ao cinema nacional. 

Independente da religião de cada um, a verdade é que o espiritismo e aquele que deu a forma atual à doutrina, são objetos de interesse e curiosidade, e como tal o filme cumpre uma interessante função para contar uma história que merecia ser contada. Para aqueles de mente mais aberta, pode ser a descoberta de novas possibilidades e uma interessante oportunidade para novas leituras e estudos.