A Casa de Papel chega ao final de seus roubos de forma emocionante

Seriado espanhol que tomou o mundo de assalto consegue entregar final condizente com sua trajetória.

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“Una mattina mi sono alzato. O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao. Una mattina mi sono azalto. E ho trovato l’invasor”. Essas palavras, mais ou menos compreendidas, mas sempre cantaroladas, já fazem parte da cultura popular no Brasil, desde que A Casa de Papel estreou em 2017, com o enredo de um assalto à casa da moeda da Espanha, performado por ladrões com macacões laranjas e máscara de Salvador Dalí, identificados somente por nomes de cidades ao redor do mundo e capitaneados pelo astuto Professor. E parece que todas as cidades que batizaram os “atracadores” (e tantas outras) ficaram mesmerizadas pelos geniais planos para um grande golpe, que faz jus aos melhores filmes de assalto do cinema. E, agora, o roubo chegou ao fim.

Ao longo de diversos anos (e algumas temporadas picotadas), o público pôde acompanhar e se apaixonar por personagens totalmente diferentes entre si, nas origens, nas dores, nas motivações e eleger seus favoritos, seus vilões e seus heróis (e, às vezes, mudar de lugar o mesmo personagem), com algo que somente a narrativa latina pode proporcionar: aquela pitada de drama e diversas reviravoltas, muitas vezes tragicômicas, mas que conseguiram manter o interesse na série, que se alongou por mais de um golpe e depois conectou todos eles.

Como toda série que estoura, havia o justificado receio de que Casa de Papel fosse se tornar refém do próprio sucesso e se perder ao longo do caminho, como aconteceu, por exemplo, com Lost, ou entrar em uma reta final desapontando os fãs e ter uma enxurrada de críticas avassaladoras, tal qual Game of Thrones. E tão importante quanto o final, seria a construção para essa conclusão.

Essa estrada foi cimentada à base de muitas balas e sangue de personagens amados, uns daqueles tipos imortais, e com a dose necessária de algozes criados para serem os para-raios da antipatia popular. E a série brincou consigo mesma, usando e abusando da metalinguagem de um mundo conectado, no qual a quarta parede nada mais era do que uma sugestão implícita, permitindo que reféns, bandidos e até mesmo os espectadores determinassem os rumos de alguns acontecimentos, como um Big Brother (ainda mais) bizarro.

E toda a latinidade transborda do ato final, repleto de concessões, reviravoltas, dramas familiares e da dose de emoção e sentimentalismo que faz os atractores se despedirem da Casa da Moeda e entrarem de vez no imaginário televisivo popular, com um final memorável que conseguiu a proeza de pagar sua cota de sangue, mas sem deixar para trás a indignação e aquele amargo na boca, de forma que só resta uma coisa a dizer: CIAO BELLOS.