Rocketman em tom intimista convida espectador para conhecer Elton John

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Rocketman é a cinebiografia de Elton John, nascido Reginal Dwight, e mostra a trajetória do cantor e pianista britânico, e leva o nome de uma das músicas mais famosas do astro, tendo seu foco durante a década de 70 e 80. O filme foi produzido pelo próprio Elton e dirigido por Dexter Fletcher, em início de suas aventuras como diretor após uma carreira pouco brilhante como ator, e é protagonizado por Taron Egerton, que havia cantado I’m Still Standing em Sing, além de contracenar com o próprio Elton em Kingsman 2. A estranha combinação de um diretor novato, um produtor contando a própria história e um ator que ganhou o papel ao dublar uma música de Elton em uma animação deu certo e Rocketman surpreende pela narrativa sincera e pela metalinguagem visual focada muitas vezes mais em sensações do que na materialidade dos fatos. 

Em Rocketman, a primeira cena mostra Elton já famoso contracenando com sua versão infantil, o que evoca uma bela imagem da célebre frase de Machado de Assis, “o menino é o pai do homem”, ou seja, muito dos medos, incertezas e sonhos que existem na infância vão povoar e dirigir a vida adulta. E essa cena ajuda a explicar porque Elton acabou desenvolvendo uma determinada pessoalidade. Interessante notar que a cena tem um filtro ameno em todos os atores que não são Elton adulto ou jovem, e através dessas facetas, a infância vai sendo explorada, entre uma canção e outra, com transições de cena feitas de forma rápida e minimalista: não se perde tempo com o que não precisa ser mostrado. 

A inevitável comparação com Bohemian Rapsody, que antecedeu Rocketman nas telas e foi o grande sucesso de 2018 arrebatando todas premiações de 2019, perde o sentido rapidamente, pois se o filme sobre o Queen tem muito mais cara de tributo, o filme de Elton traz uma abordagem muito mais intimista, talvez até por ter sido produzido pelo próprio, ao invés da consultoria plural prestada pelos membros remanescente do Queen. Em termos artísticos, Queen honra Freddy Mercury, enquanto Rocketman esmiúça a trajetória de Elton, com grande foco em seus erros e não somente em sua música, e essa sinceridade não deixa de ser um diferencial positivo. 

Em termos de atuações, Taron consegue emular as caras e bocas de Elton, além de uma bela performance musical ao cantar suas músicas, mostrando a versatilidade desse ator britânico, que consegue se sair bem em diversos papéis. Interessante também ver a performance de Richard Madden, o conhecido Rob Stark, tão diferente do papel que lhe marcou que deixa a expectativa de belas atuações no futuro. A direção dá toques interessantes, como quando Elton literalmente decola como um foguete, ou quando levanta o público do chão com Crocodile Rock em seu debut americano. E a narrativa consegue acompanhar as diferentes fases, ascensão queda e redenção do astro, seu envolvimento com as drogas, sua íntima parceria com seu letrista por mais de 40 anos, Bernie Tupin, para o qual o filme dá um merecido destaque, reforçando o tom intimista da obra. 

Envolvente e intimista, Rocketman consegue honrar a trajetória do astro, e ainda apresentar um grande músico para uma geração menos familiarizada com o mesmo, especialmente aqueles que só pegaram uma fase mais romântica como Candle In The Wind e Can You Feel The Love Tonight?, que merecem conhecer seu passado mais animado. E nada melhor do que terminar a obra com I’m Still Standing, marcando sua redenção triunfante. Bela surpresa.