Os telespectadores que estão acompanhando Três Graças testemunharão, nos próximos capítulos, uma volta ao passado que dá outra cor ao caráter de Arminda (Grazi Massafera). Um flashback mostrará que a decisão que marcou a vida de muitos personagens — o mistério da explosão da lancha e o sumiço de Rogério (Eduardo Moscovis) — não foi tomada com crueldade gratuita da parte da vilã, mas foi motivada por um medo concreto: a possibilidade de perder Raul (Paulo Mendes).
Segundo Saniel Farad, colunista do Notícias da TV, a cena reconstitui as engrenagens do crime e revela como a ambição e o cálculo de Ferette (Murilo Benício) se combinaram com o pânico maternal de Arminda.
Rogério ia denunciar Ferette
O recuo temporal de cinco anos expõe Ferette como o mentor da sabotagem. Ele havia descoberto que Rogério estava prestes a abrir a boca sobre a fraude dos medicamentos e viu no desaparecimento do sócio a forma de evitar que tudo desmoronasse. Arminda, por outro lado, surge dividida: embora não fosse afeita a laços afetuosos, ela tinha uma razão prática — Raul — para temer as consequências de uma denúncia. O flashback mostra que o conflito entre preservação do poder e proteção da própria família foi a fagulha que incendiou a trama sombria que todos ainda pagam no presente da novela.
Na cena reconstruída, a discussão entre os envolvidos não é um duelo de frases prontas, mas um embate de argumentos e pressões. Arminda demonstra medo e hesitação: não por compaixão excessiva por Rogério, mas porque um escândalo poderia destruir o vínculo que restava com o filho e expor segredos capazes de arruinar sua casa. Ferette, implacável, pressiona a parceira a aceitar o plano que ele já arquitetara. Ele lembra dos riscos e argumenta sobre os benefícios de fechar de vez um capítulo que poderia levá-los à ruína — e, mais importante, a sua própria manutenção no comando dos lucros sujos.
Arminda concorda
Ao acompanhar o diálogo, o telespectador percebe que a decisão final de Arminda nasce da combinação de medo e cálculo: ela entende que, se Rogério seguisse com a denúncia, Raul poderia ficar à deriva, estigmatizado e sem amparo. Essa preocupação com o filho é apresentada como o fio condutor que a leva a concordar com a medida extrema. Não se trata, portanto, de um ímpeto homicida gratuito, mas de um sacrifício moral que Arminda aceita para preservar o estilo de vida e, sobretudo, para evitar que Raul perca tudo — inclusive o sobrenome que a senhora tanto preza.
O flashback também evidencia a astúcia de Ferette, que transforma um temor privado numa arma pública. Ao sabotar a lancha e forjar um suicídio ou um acidente, ele objetiva não apenas silenciar Rogério, mas blindar a sua fortuna e manter intacta a máquina de falsificação de remédios que dá sustentação ao seu poder. O autor mostra assim como uma estrutura criminosa se articula: decisões frias, cumplicidade íntima e a escolha de medidas definitivas para neutralizar ameaças internas. A cena volta e meia retorna ao presente da novela, fazendo a audiência medir as consequências daqueles atos no destino de cada personagem.
No presente, as reverberações desse crime do passado aparecem em sombras: a estátua das Três Graças, os cofres escondidos, as mentiras que corroem famílias. A nova luz jogada sobre Arminda não a absolve automaticamente — ao contrário, complica a leitura moral do público. Saber que ela aceitou a ‘solução final’ em nome da proteção de Raul não transforma a megera em heroína; apenas a torna mais humana e mais trágica, presa entre a ambição e um instinto de proteção que se manifestou de forma perversa.
