Altered Carbon volta mais intimista e filosófico em sua segunda temporada

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Altered Carbon chamou muita atenção em sua primeira temporada trazendo um mundo no qual a essência de cada ser, de forma simplificada a alma e as memórias, ficava armazenada em cartuchos, que poderiam ser inseridos em novos corpos, chamados de capas, trazendo assim a possibilidade de imortalidade, salvo se destruído o cartucho (e eventuais backups).

No primeiro ato, é explorada a tecnologia em todas suas potencialidades, e a frivolidade de vidas eternas, com as possibilidades de capas que permitem a exploração de todos os prazeres carnais aos extremo, auxiliados por dinheiro sem fim e por uma manipulação genética voltada aos gostos dos Matusaléns, como são chamados os milionários de vida prolongada. 

Por sua vez, a segunda temporada chega trazendo uma nova visão desse mundo, contrariando a regra da expansão da segunda temporada, que geralmente expande o universo criado na primeira temporada. Quebrada a expectativa de um segundo ato mais expansivo, Altered Carbon resolve ser mais intimista em sua continuação, e os dilemas morais ganham o espaço antes reservado ao narcisismo e a violência. Não que não haja violência na segunda temporada, mas ela é muito mais instrumental, um meio para um fim, do que um fim em si mesma.  

Um grande destaque da segunda temporada é Poe, o companheiro virtual de Tak, que às voltas com as consequências da primeira temporada, é confrontado com uma escolha que lhe faz pesar sua continuidade versus suas memórias. Afinal, o que faz uma vida são as experiências ou a função biológica em sí? Essa jornada de autoconhecimento de Poe traz uma carga emotiva de muita sensibilidade, o que realmente não se esperava de uma série tão visceral, provocando uma agradável surpresa, e de certa forma roubando a cena em bela atuação de Chris Corner. 

Se a jornada de Poe é por sí mesmo, a de Tak é por Quel, e o público tem a chance de conhecer novas capas do último emissário, que lhe deixa menos ostensivo e mais tático, em uma bela atuação de Anthony Mackie, que consegue emular os (mau) humores de Tak e até de mostrar outras personalidades quando necessário pelo contexto.

E Tak encontra um antigo sensei em Tanaseda, um dos fundadores de Harlan, personagem extremamente cativante e que serve de condão reflexivo para que Tak avalie seus caminhos e escolhas. Tak não é o herói nem os antagonistas são necessariamente os vilões, afastando a série de um maniqueísmo barato e mostrando a complexidade das personalidades e decisões. Todos tem suas agendas, e a bondade e maldade são relativizadas com frequência na habilidosa narração do segundo ato. 

Mais parecido com Blade Runner e as continuações de matrix do que consigo mesma, Altered Carbon consegue se reinventar e mostrar que a variedade de temas que a série pode explorar são quase tão numerosos como as capas no seu mundo inventado. Só precisa do cartucho certo.