Mercúrio é um metal líquido cujo nome homenageia o deus mensageiro dos outros deuses do Olimpo, sendo que essa homenagem se dá pela fluidez do elemento. Nome mais apropriado não podia ter sido adotado por Farrokh Bulsara, que foi imortalizado na controversa e admirada figura do cantor líder do Queen, Freddy Mercury, seu nome artístico.
A fluidez de Mercury, muitos vão dizer que vem de sua sexualidade, mas a verdade é que essa era a marca de sua musicalidade e do seu gênio incomparável, fosse como compositor ou cantor e é essa faceta que Bohemian Rapsody, longa que homenageia a banda e seu líder vem mostrar ao público dos cinemas de todo o mundo.
Controverso, como não poderia deixar de ser, o filme dirigido por Bryan Singer teria como ator principal Borat, mas esse queria fazer muitas decisões autorais, indo fundo nas polêmicas envolvendo o falecido cantor, e banda teve que fazer uma decisão: o filme seria um tributo ou um documentário? O tributo foi escolhido, Rami Malek foi o novo ator escolhido e os fatos mais controversos foram somente pincelados, tendo sido dada ênfase ao homem, seus medos e inseguranças, e sua genialidade fluída e incomparável. Ao final do longa, essa se mostra uma decisão justificada, pois é por suas contribuições que Mercury gravou seu nome na história, e não por sua histeria, seus abusos ou sua promiscuidade.
O filme parece rápido demais, e o público consome suas mais de duas horas com avidez. Pontuada por momentos cômicos, as músicas são usadas como marcos da narrativa, e vão explicando momentos da banda e dos sentimentos envolvidos e são o verdadeiro chamariz da projeção. Ao lado, é claro, do célebre quarteto de músicos, Rami Malek no papel principal (da série Eu, Robô e que faria um excelente Altaïr Ibn-La’Ahad de Assassin´s Creed se a história original fosse contada nos cinemas), Ben Hardy como o esquentadinho baterista Roger Taylor, Gwilin Lee como o guitarrista Brian May e Joseph Mazzelo como o baixista John Deacon. O trabalho de personificação dos músicos ficou visualmente tão admirável que se tem a impressão por vezes de estar vendo um documentário.
O esmero da produção com momentos chaves da banda foi impressionante: fica o convite para aqueles que virem o filme buscarem no youtube a apresentação do queen no Live Aid: cada trejeito, cada gesto e cada entonação são mimetizados à perfeição.
Sobre a narrativa, muitos fatos serão negados pela história. Novamente, a decisão foi por um tributo e não por um documentário. Com isso em mente, fica mais fácil aproveitar as liberdades poéticas e os momentos como são apresentados: seja a vilania de pessoas que se aproveitaram da fama do cantor, seja o contexto da criação de grandes obras e a contribuição de cada músico, os shows marcantes – com destaque para o Rock in Rio, a importância de Mary Austin, uma anti-yoko, ou mesmo a questão da sexualidade e a prematura morte do cantor. Nota de destaque para o advogado da gravadora, que figura como um facilitador para a banda.
Bohemian Rapsody é uma justa homenagem a uma das maiores bandas de Rock de todos os tempos e ao seu cantor, a maior voz que o mundo do Rock ouviu cantar, que não teve medo de ousar ao negar fórmulas prontas e criar o repertório mais eclético do Rock, com mais de 150 milhões de álbuns vendidos, influenciando gerações e gerações de músicos, bandas e ouvintes. Não à toa sua passagem ganhou as manchetes de Londres com a frase: A rainha do rock está morta – ou no original The Queen of Rock is Dead. O show deve continuar e Bohemian Rapsody com certeza cumpre esse papel com maestria.